Nessa jarra (tão longe)

Uma resposta tão simples. "Acho que nunca recebi flores." Sorrio e aproximo-me de ti. Simplicidade que me desarma. E beijo-te. A rosa repousa na jarra. Naquela sala. Em tua casa. Essa casa tão longe desta rua por onde agora desço. À minha direita a florista exibe uma mescla de cores e pétalas. Aromas. Para a próxima será uma tulipa. Será entregue entre beijos e repousará nessa mesma jarra onde em tempos repousou uma rosa branca. Onde agora repousam rosas vermelhas. Dessa jarra escutará a música suave que pões a tocar enquanto preparas o jantar. Escutará a tua voz meiga nas conversas diárias. Observar-te-á ao passares pelo corredor quando sais do banho. Enquanto secas o cabelo com a toalha. Na mais perfeita devoção há-de contemplar esses olhos claros. Meigos. Que repousarão nela quando lhe mudares água. Por enquanto a tulipa fica. No meio de tantas outras. Nesta florista no centro da cidade louca onde não há tempo para flores. Fica e aguarda. A altura em que há-de repousar nessa jarra. Nessa casa. Tão longe da rua que agora desço.
(Fotografia por Maria Salvador, em www.olhares.com)