As Horas
16h30 - Concordaste. Vamos ver a ante-estreia da peça com os bilhetes que ela me arranjou. Vou-te buscar às 20h45 a casa para seguirmos juntos para o teatro. Ok. Depois vamos à tal festa na "Loft". Não quero que desperdices as entradas. Devo estar louco. Discoteca numa quarta-feira.
20h00 - Reunião urgente. Há que fazer o procedimento disciplinar para despedir o porteiro de um bar de alterne. A inquirição de testemunhas tem que ser feita hoje e as "meninas" só podem durante o horário de laboração. Ok. Vais lá comigo depois do teatro e depois seguimos para a festa.
20h30 - Nunca vou conseguir estar à tua porta a tempo. Podes ir ter ao teatro. Não tenho roupa para ir para a Loft e não tenho tempo de ir a casa tirar o fato, camisa e gravata. Uma corrida ao Saldanha. T-Shirt preta numa loja no "Atrium". Com fato cinzento. Ar de chulo. E este táxi que não voa. Que vai vagueando até ao teatro.
21h30 - Desculpa o atraso. "Estás com um ar tão cómico. Alucinado." Eu sei. E o calor dentro desta sala. As emoções. A impressão que me faz a dor deles. O desespero. E a dor física dela. Violada. Acabou e no meio disto tudo nem jantei. Já não vou jantar hoje.
23h30 - As inquirições. Depoimentos entre shows de strip. Sotaques brasileiros. Corpos eslavos. Música. Testemunhas sentadas. Envergam vestidos de renda que apenas servem para salientar a lingerie. Para expôr carne. E mágoa. "Esta é uma das noites mais surreais da minha vida." Eu disse-te que ia ser uma noite diferente.
02h00 - "Loft". Tiro o casaco. Está abafado. Não acredito na ousadia. Consigo mesmo andar em público assim vestido. Outro copo. "If you wanna be rich you gotta be a bitch." E eu danço. Salto. Olhos fechados. O corpo entrega-se. A música. O fumo que se insinua. O cheiro a tabaco. As batidas fortes. Loucura. Amanhã tenho que acordar às 7h. Reunião às 8h30.
04h30 - O eco. Passos no passeio. A caminho de casa. Sombra incrédula. Conseguirá acordar a tempo da reunião? Continua negra. Caminhando. Sob a lua. Vai-se desvanecer num quarto com luzes apagadas. Para um sono de duas horas.
12 murmúrios:
o sufoco do tempo. é sufocante este texto.
Quem me dera vivar numa ilha...sem relógios...sem o stress do tempo.
Luis, será que queres dizer com este desencadiar de tempo, que ele foje e nós andamos toda a vida para o agarrar.
Depois dos trinta, nem imaginas a velocidade, deixamos de ter tempo, para ter tempo.
Bfs e um abraço.
Fantástico. A tua escrita é bastante singular, devias pensar em publicar.
Bom fim de semana:)
Bom dia Luís,
Os teus textos são surpreendentes e fazem-nos pensar. Reflectir, muito!
Olha, se quiseres ver mais um pouco da Ria de AVEIRO, aparece lá por casa.
Tem um bom fim-de-semana.
Abraço
E que grande peça :P
e horas para ser feliz? alguns instantes, pelo menos? Já Pedro Tamem dizia que era formado em Direito e Solidão e Virginia Woolf desesperava com o tempo que lhe fugia e com aquele que ela já não queria enfrentar....lindo texto o teu, Luís, embora que amargurado...
Por vezes é complicado conciliar o trabalho com a nossa vida pessoal por este nos tomar tanto tempo...
No entanto, há que encarar a vida com positivismo... e tudo se resolve!
Beijo grande.
No envidies. Escribes muy bien. Te felicito.
Un fortísimo abrazo.
Deixei um desafio para ti na Casa:)
"Every year is getting shorter, never seem to find the time
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines
Hanging on in quiet desperation is the English way
He time is gone the song is over thought I'd something more to say"
(Pink Floyd - Time)
As horas e a espera pelo tempo...
Gostei muito!
O tempo...a nossa luta incessante contra o tempo!Que não damos pelo tempo q passa, e não vivemos ou disfrutamos a vida.Não te arrependas de só ter dormido 2 horas...
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