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segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Cardiologias


Sentimos que fomos cativados quando o nosso coração bate mais depressa ao pensarmos em quem nos cativou, escreveu Saint-Exupéry. E assim fui calcetando a minha via afectiva. O coração quase explode ao pensar no seio familiar, de tal forma fui cativado pelo amor que flui no mesmo sangue que o meu. Os amigos foram recebendo essa designação apenas depois da primeira arritmia que me provocaram. E assim cativei e fui cativado. Uma noite encontrámo-nos em casa de um amigo em comum. Sem que abrisses os lábios conseguiste cativar-me. E eu sabia que não era amizade. Ficámos um mês sem nos vermos até nos voltarmos a encontrar numa saída por um bairro da cidade. "Gosto de ir a exposições", disse-te eu. "Gosto de viajar", respondeste-me. E assim se encetou uma conversa que me desgastou o coração de tanto esforço que teve que fazer. Quase o fizeste parar, morto de cansaço, quando nos beijámos no meio da pista de dança. O coração disse-me que queria envelhecer a teu lado. Fizemos das nossas vidas uma e nunca mais conheci um ritmo cardíaco regular. Estava cativado e cativo. Tu sorrias quando te aproximavas e colocavas a mão no meu peito para sentir mais uma arritmia. Um dia chegaste a casa e percebeste que o meu coração já não batia por ti. Saíste para a rua e choraste a tua desgraça. Contaste aos teus amigos e ninguém te acreditou. Pois se éramos tão felizes. Quiseram comprovar e organizou-se uma procissão até nossa casa. Todos queriam por a mão no meu peito: demonstrar-te-iam que ainda era por ti que o meu coração batia. Chegaram e não foi precisa a confirmação de todos os peregrinos. O primeiro toque deu o veredicto: o meu coração já não batia quando te aproximavas. Sugeriram que se chamasse a polícia. Eu jazia morto no chão.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Noites com a noite nos braços



As paredes arrefecem-se do sol que as lambeu durante todo o dia. Agora o vale vestiu-se de noite e o terraço enfeitou-se de estrelas. A vela acesa empenha todos os esforços: não quer a casa abraçada pelas trevas. Tu também te esforças para saber. "Porque é que não páras? Porque não te deitas?" Vejo a dúvida nos teus olhos e saio para o alpendre. Tu não percebes e ninguém antes de ti percebeu. Nem eu. Não consigo. Tenho que sair de nós para estar contigo. Caminho descalço sobre as lajes frias. Fecho a cancela e sigo em direcção ao monte. Sinto-me feliz, agora que embalo a noite escura e fria. Agora que a tenho nos meus braços. Ninguém antes de ti percebeu. É que eu não sei esse abraço permanente. Ninguém soube que me queria perder enlouquecido de saudade do que nunca tive e que essa é a saudade mais perigosa. Por isso continuo a caminhar. A casa é agora um pontinho onde a lua se derrama lá no fundo do vale. A erva transpira a chuva que não caiu e caminho sentindo o seu roçar nas minhas pernas. Diz-me que a ventania se aproxima prenha de carícias. Conta-me histórias de felicidade e pede-me que me deite sobre ela. A casa já não se vê e por isso deixou de existir. O universo é o homem e a erva que pisa. Ambos com saudades do que não houve. E envoltos um no outro adormecem. Silêncio. Sobre o homem e a erva onde agora se deita.

(fotografia de Filipa Scarpa)

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Ad lucem


Fui jovem e o sorriso era o meu dialecto. A casa era branca e ampla. Algures no sul. Sentava-me no terraço e a vida era felicidade. Um dia vieste e eu não te esperava. As janelas abertas de par em par alegraram-se na sua luz cortada pela tua sombra. Foi breve a tua estadia. Continuei sentado no terraço à espera que voltasses e a vida deixou de ser felicidade. Nunca mais vinhas e eu soube que não valia a pena esperar: doíam-me as janelas abertas e a luz orfã da tua sombra. Fechei as janelas, as portas e os lábios. Corri o mundo na certeza de não te achar e quando o mundo apagou a tua ausência parei. Entrei e atravessei os claustros do meu exílio. Alheio a qualquer sombra que lhes pudesse rasgar a luz.


(fotografia de Eduardo Gageiro: claustros da Cartuxa de Évora)

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Porque hoje é dia dos namorados...

mar adentro

... as ondas murmuram esta história.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Manhãs kafkianas


A minha pele está a mudar de tonalidade. A côr dos olhos, do cabelo. Todas as manhãs o espelho confirma esta metamorfose. Os traços começam a adquirir uma fisionomia que me é familiar mas que nunca foi a minha. É cada vez mais notório e assusta-me. As batidas cardíacas perderam o seu ritmo próprio e os pés já não me levam para onde desejo. Já não desejo. Os meus horários já não são os mesmos e os caminhos que percorro são-me estranhos. Quando me deito o cheiro da cama não é o meu. O odor do meu corpo nunca foi este. Sou cada vez menos eu. Há cada vez mais algo de ti. No que fui eu.

(fotografia de Júlio Viena)

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Flamenco (considerações a propósito do espectáculo "España Baila Flamenco")



O grito continuado. Eco das planícies andaluzes. E ela dança. Faz seu esse grito. Rodopiam os folhos vermelhos, gira o corpo numa reviravolta estonteante. Os braços prendem o olhar em ondulações constantes, harmoniosas. Um outro grito. Acentuado. E os braços que param. Tira-nos o fôlego. De novo gira sobre si mesma, envolta em folhos e asas de leques. Rosa vermelha que emerge do cabelo negro. Lábios rubros como o sangue que lhe ferve nas veias. Explode num estampido de pateares no soalho de madeira que se mistura com o compasso das castanholas. Bambolea as ancas caminhando pelo nada de que é Senhora. Prisioneiros dos seus folhos, dos seus braços, o nosso o olhar não se desvia. Traças apaixonadas pela luz rubra da sua alma. Pela transparência de uma lágrima que lhe foge. Quando por fim já não dança.


(Pintura: "Flamenco dancer" por Fabian Perez)


Air - Bach