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segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Cardiologias


Sentimos que fomos cativados quando o nosso coração bate mais depressa ao pensarmos em quem nos cativou, escreveu Saint-Exupéry. E assim fui calcetando a minha via afectiva. O coração quase explode ao pensar no seio familiar, de tal forma fui cativado pelo amor que flui no mesmo sangue que o meu. Os amigos foram recebendo essa designação apenas depois da primeira arritmia que me provocaram. E assim cativei e fui cativado. Uma noite encontrámo-nos em casa de um amigo em comum. Sem que abrisses os lábios conseguiste cativar-me. E eu sabia que não era amizade. Ficámos um mês sem nos vermos até nos voltarmos a encontrar numa saída por um bairro da cidade. "Gosto de ir a exposições", disse-te eu. "Gosto de viajar", respondeste-me. E assim se encetou uma conversa que me desgastou o coração de tanto esforço que teve que fazer. Quase o fizeste parar, morto de cansaço, quando nos beijámos no meio da pista de dança. O coração disse-me que queria envelhecer a teu lado. Fizemos das nossas vidas uma e nunca mais conheci um ritmo cardíaco regular. Estava cativado e cativo. Tu sorrias quando te aproximavas e colocavas a mão no meu peito para sentir mais uma arritmia. Um dia chegaste a casa e percebeste que o meu coração já não batia por ti. Saíste para a rua e choraste a tua desgraça. Contaste aos teus amigos e ninguém te acreditou. Pois se éramos tão felizes. Quiseram comprovar e organizou-se uma procissão até nossa casa. Todos queriam por a mão no meu peito: demonstrar-te-iam que ainda era por ti que o meu coração batia. Chegaram e não foi precisa a confirmação de todos os peregrinos. O primeiro toque deu o veredicto: o meu coração já não batia quando te aproximavas. Sugeriram que se chamasse a polícia. Eu jazia morto no chão.

10 murmúrios:

Blogger Luís Galego murmurou...

aguardo com interesse o desenrolar deste apontamento...estou curioso, muito curioso...

3:44 da tarde  
Blogger Maria murmurou...

"os amigos foram recebendo essa designação apenas depois da primeira arritmia que me provocaram".

Gosto destas arritmias. Mais do que das minhas...

Um beijo

10:00 da tarde  
Anonymous Anónimo murmurou...

O verbo cativar é dos mais belos de conjugar, até para os doentes cardíacos, como eu.

12:29 da manhã  
Blogger Urban Cat murmurou...

Mais uma vez...encantador ;)

Quem me dera poder dar voz ao coração, em vez disso penso apenas com razão!

VIVA O PULSAR DE UM CORAÇÃO APAIXONADO!

Beijos

9:31 da manhã  
Blogger Angela murmurou...

Ao chegar perto do final do teu texto, estava a ficar desiludida e perplexa pois estava a achar estranho essa paragem cardíaca, quando súbita e surpreendentemente percebo que o coração só poderia deixar de bater devido à morte!

Adorei o teu texto. Adoro a tua escrita.

Beijinho grande.

4:32 da tarde  
Blogger Maria Carvalhosa murmurou...

Como é bonito o ritmo das tuas palavras a acompanhar o bater do coração. Mais um belo texto, pleno de criatividade e talento.

Um beijo.

5:22 da tarde  
Anonymous Anónimo murmurou...

Amigo Luís,

Com tão belos textos e ilustrações, dás cabo do nosso coração. Essas analogias que tão bem sabes descrever são de uma sensibilidade e de um carinho que comove qualquer um.

Mais uma vez gostei muito e espero poder continuar a apreciar-te.

Aparece com o tal livro pois um grande número de exemplares está já vendido.

Um beijinho e obrigada por seres tão especial e teres permitido conhecer-te melhor.

9:35 da tarde  
Blogger Egrégora murmurou...

Ás vezes gostava de mandar o coração ir passear um bocadinho. Sempre cá dentro fechadinho, rodeado por sangue, coitadinho. Pudessem os corações ir passear um bocadinho, sentarem-se na sombra de uma arvore e ver meninos a brincar
**

2:10 da tarde  
Blogger rascunhos murmurou...

sou uma tótó, estava à espera de um final feliz...

mas adoro a tua escrita como sempre
bjs

2:16 da tarde  
Blogger P-S murmurou...

Mais uma vez um texto fantastico, as palavras por ti têm sempre um relevo fascinante.

9:58 da tarde  

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