Último acto
No primeiro acto aguardo-te debaixo da luz do candeeiro. Vejo-te virar as costas e afastares-te na certeza de que voltarás num sorriso daqueles que confirmam que é tudo uma brincadeira. Dobras a esquina e não te voltas. Não há sorriso e a luz do candeeiro esmaga-me contra a calçada.No segundo acto conduzo à beira de um rio que arrasta de mim qualquer esperança. Dói-me o corpo de saudades e esta noite não encontrarei abrigo no umbral da tua boca. "Only you can make you happy", sussurram as "Au revoir Simone".
No terceiro acto oiço o telefone tocar. Não o atendo. Indiferente. Ou talvez receoso. É a minha vez de dobrar a esquina sem olhar para trás. Desce o pano. Somos crianças e a vida é um faz de conta.
(Imagem: "Excursion into Philosophy", Edward Hopper)




