
Branco. Foi o que vi quando lá cheguei. Contrastava com o negro da fúria da discussão que me afastou de Lisboa e com o vermelho da paixão descontrolada que dizes que coloco em tudo o que faço, em todas as minhas atitudes. Mas ali era o branco. Das paredes do quarto, do jarro de porcelana e dos lençóis que o tacto revelava terem sido recentemente engomados e cujo aroma a lavanda envolvia os sentidos. Eu sabia que não merecia o branco daquela casa nem a paz das oliveiras que a rodeiam. Se a minha mãe o soubesse teria preparado com tanto carinho aqueles lençóis? Creio que sim. Dizem que o amor de mãe é incondicional. Bem diferente do que sinto por ti, que não é amor e que está sujeito a uma infinidade de condições que lhe vou impondo. Agora sei que as palavras que lancei impiedosamente contra ti nunca te foram merecidas. Que encontraram a sua propulsão no capricho que sempre me deu tanta segurança e que hoje se vê abalado pelo eco feroz do que te disse e fiz. Esse eco que me perseguiu de Lisboa a Tomar. Que me atormentou nas noites ricas de lua e nos passeios por entre olivais. Pode ser que me perdoes. E que nessa altura eu possa então dormir descansado nos lençóis brancos onde me deito.