Da riqueza que me povoa a solidão

Atravesso o rio dourado pelo último beijo que o sol lhe deposita esta tarde. Alma atormentada e punho firme, sigo constante na velocidade. Tenho o teu cheiro e a tua voz. O toque das tuas mãos nos meus braços. Tudo tenho. Menos a certeza. Queima-me esta loucura que me não deixa agarrar serenidades. Porque o meu amor, Amor, é e será sempre violento. Pouco compadecido de agendas, ou quotidianidades. O meu amor estala. E arde. E revolve-me a carne com a força de mil arados a atravessar hectares de sonhos. Cresce de noite, enquanto dormes, com a constância da barba que me desenha o rosto. E, violento, não o consigo direccionar. Contenho-o na barragem do meu corpo. E serei sempre apenas eu. Incapaz de tranquilidades.
(imagem: "Young man asleep", Eugene Berman)