Porque sempre só

A tua voz encerra o quintal com oliveiras de prata nas noites de luar e os recantos negros dos currais onde ele (que morreu um ano e dois dias depois de eu nascer) escondia o azeite durante a Guerra. A tua voz é o eco de um terço murmurado antes de adormecer (nunca concluído). E tem a suavidade dos cabelos brancos da minha avó. Perde-se entre as linhas cruzadas dos telefonemas do meu pai tão longe. A tua voz tem ecos dos meus passos a caminho da escola e o toque macio de um beijo proibido. Desenha o Alentejo e os corpos presos entre si, envoltos no vento quente da planície. Cheira ao mar de Porto Côvo. A tua voz explode e desvanece-se caindo sobre mim. Como ténue caliça de solidão.