Porque sempre só
A tua voz encerra o quintal com oliveiras de prata nas noites de luar e os recantos negros dos currais onde ele (que morreu um ano e dois dias depois de eu nascer) escondia o azeite durante a Guerra. A tua voz é o eco de um terço murmurado antes de adormecer (nunca concluído). E tem a suavidade dos cabelos brancos da minha avó. Perde-se entre as linhas cruzadas dos telefonemas do meu pai tão longe. A tua voz tem ecos dos meus passos a caminho da escola e o toque macio de um beijo proibido. Desenha o Alentejo e os corpos presos entre si, envoltos no vento quente da planície. Cheira ao mar de Porto Côvo. A tua voz explode e desvanece-se caindo sobre mim. Como ténue caliça de solidão.
3 murmúrios:
Texto muito pessoal e com a tua marca de um extremo bom gosto na escolha das palavras e na construção das frases.
Bela homenagem a alguém que te é(ou foi) querido.
Abraço.
Maravilhoso este texto!
De como uma voz pode pintar paisagens dentro das nossas memórias
Um beijo!
Meu querido Luís, meu querido amigo, não podes sequer supor a emoção que me embala a escrever estas linhas...
sabes exactamente o que é essa voz, essa voz que também sobre mim cai, ora em solidão, ora em festa, dependendo apenas do passado que me evoca.
Obrigada. Muito, muito obrigada por este texto. É muito pessoal sim, mas deixa-me roubar-to e ajustá-lo à minha experiência.
Um abraço muito grande.
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