Confiante

Um casaco e a pasta. Hoje vou ser confiante e não levarei chapéu-de-chuva comigo. Desço a rua para tomar café e penso no que é que há-de ser logo o jantar. Sigo para o tribunal: mais um dia em que vou pôr aquela cara de mau e engrossar a voz debaixo de uma toga preta que me esmaga. O julgamento correu bem e foi sucedido de um almoço agradável com um colega num daqueles restaurantes perto do tribunal que se enchem de advogados à hora da refeição. Ele comenta a confiança que contrasta com a minha pouca experiência e eu agradeço o elogio por saber que não passa disso mesmo. O resto do dia decorreu ao compasso do Tejo. No final da tarde, se nos tivéssemos cruzado, seria ali em Belém, no jardim perto do Mosteiro. Ver-me-ias com o casaco e a pasta. Sem toga, vestido de vento, perdido e nada confiante. Ver-me-ias sem chapéu e com os cabelos a pingar. Afinal, acabou por chover mesmo.
(imagem: "Canabalismo de Outono")