Do preâmbulo do nosso epílogo
(imagem: "Ram's head", por Georgia O'Keeffe)
A cal das paredes foi-se desfazendo numa ténue poeira que se acamava pelo chão fora e as próprias paredes foram-se esboroando até desparecerem. O soalho foi ficando gasto até se conseguir ver a terra as ervas foram povoando o solo. As telhas foram caindo e os barrotes que as sustentavam acabaram por desabar. E assim a casa foi consumida pelo tempo.
É assim que começa o meu livro, sabes? Comecei a escrevê-lo hoje porque se impõe. Por um lado porque consigo agora revisitar esses dias sem que a mágoa me venha pontapear o peito, e por outro, porque os mesmos dias são como a casa do livro: começam a diluir-se no tempo sob a ameaça de se perderem de vez. Edificaste os meus dias com o calor do teu corpo, com a alvura do teu sorriso e com esse olhar tão doce, sem que eu alguma vez desconfiasse que os conseguiria voltar a edificar sem ti. E o que fazer agora, quando a dor da tua ausência, que foi a minha única riqueza nestes anos, já não quer ficar a meu lado? Sinto que tem que ser escrita. Juntamente com os sorrisos que me rasgaste nos dias felizes. Não o fazer seria uma traição. À tua presença. E à da tua ausência.
4 murmúrios:
Porque é que vocês transformam as presenças em ausências?!
Quando vi este post noutro blog, recusei fazer qualquer comentário, por me parecer totalmente desenquadrado de uma realidade recente; preferi esperar...
Fiz bem, pois o post "transitou" para aqui, e neste local, embora me possa ainda parecer estranho, já ganha alguma coerência...
Vou continuar à espera antes de tirar conclusões...
Abraço.
A tua escrita mostra-nos o que foste, o que és e o que serás...Agradeço essa partilha.
Será um bom livro, tenho a certeza.
Beijos
as palavras valem o que valem; mas aqui valem muito...
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