suor
Com o regresso do sol voltou o hábito de sentir Lisboa entardecer com um Martini à frente. "Rosso", com duas pedras. Os cacilheiros agitam-se numa tentativa desesperada de mostrar que a vida não é um sonho e que os homens e mulheres escolhidos para a viver têm que trabalhar, suar e extrair dos seus braços grandes projectos durante muito tempo imaginados. Chamam-me tonto, sabes? Mas a verdade é que eu nem sei se quero que algo saia dos meus braços. Um último trago e desço a rua em direcção à paragem do eléctrico. Dois homens empurram-me para a realidade e acabo por me aconchegar sozinho num banco de madeira enquanto sou sacudido pela frágil carruagem amarela. Janela aberta e um grito de Lisboa. Um grito que me rasga a carne do rosto e me marca de saudades e melancolia. O sol espalhou-se sobre as paredes amarelas do Terreiro do Paço e os edifícios não conseguem desgrudar esta película fulgente para poderem enfim receber a lua com a solenidade crepuscular que lhe é devida. Devia apertar a campainha do eléctrico e avisar os homens para trazerem escadotes, vassouras, esfregonas e diluente. Que ninguém consegue tirar o sol das paredes e que a lua assim não virá aconchegar as mantas à cidade adormecida. Que têm que suar um pouco mais e esfregar com força até a luz se desentranhar das casas. Até esta melancolia se desentranhar de mim.
5 murmúrios:
Luís...
... não me tentes!
Lindo como sempre... e Lisboa é linda também.
...........Que ninguém consegue tirar o sol das paredes e que a lua assim não virá aconchegar as mantas à cidade adormecida............
...... O sol espalhou-se sobre as paredes amarelas do Terreiro do Paço ........
Conheço tão bem este cenário.
como é fácil gostar duma Lisboa assim..através das tuas palavras...
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