Quando?
Escurece e eu corro para o carro. Pode ser que chegue a casa ainda com a luz do entardecer. A escuridão ameaça abater-se sobre a cidade consumindo prédios, estradas e transeuntes. O vento fresco deste final de tarde arrefece-me a pele acostumada ao sopro quente do verão, os jacarandás choram lágrimas púrpuras e eu, homem regressado a rapaz pequeno, enrolo-me no carro com medo da noite. E como não há medo que a impeça sei que ela chegará e me vestirá de negro, que me soprará saudades rasgadas do fundo de um tempo que nunca deveria ter vivido e que dispersará todas as bem-aventuranças que seguro entre estas duas mãos outra vez tão pequenas. Os candeeiros murmuram melancolias eléctricas e entro no bar de sempre. Um martini para afagar a solidão que será sempre a minha companheira de copos. Um choro contido. Logo hoje que acordei e soube que ia ser feliz.
(imagem: "Auto-retrato", por Karabchievsky)
4 murmúrios:
Eu acho que não é só hoje; agora acordas todas as vezes feliz, apesar dessas lembranças e dessas noites...
Como sempre não há palavras....
Os candeeiros murmuram melancolias eléctricas
belo título de um livro que fale de solidão, sentimentos, paixões...
Como vai esse coração?
Como vai essa alma de poeta?
Beijos ;)
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