O dia apresenta-se calmo
O brilho do sol através dos primeiros chuviscos da manhã compõe esta torre de espelhos que ergui. Homem torre que reflecte o que os outros esperam ver nele. As muralhas são resistentes e o dia apresenta-se calmo... Torre que resiste no horizonte. Os urros do mar chamam-me à contemplação. Ninguém sabe o que olha, diziam eles. E assim, ergo-me farol arrogante que se julga capaz de dar luz aos perdidos. Cresço-me em toda a soberba e grito fortalezas e serenidade. O dia apresenta-se calmo... Torre que resiste no horizonte. Sedimentam-se alicerces e as ameias são engalanadas de mil bandeiras, manhãs de sol. Perscruto o horizonte apregoando luzes e salvação. O horizonte plano, cortado apenas por anónimos passantes. Num repente a luz que se perde. Vulto familiar, o teu. E o dele. Luz que definha, espelhos quebrados. Fortaleza em ruínas. E a dor de uma ferida que não sara. A coincidência sabe a punhal.
5 murmúrios:
Gosto das palavras como sempre; mas acho que a foto é excepcional, mostra a força do mar...
Abraço.
"O brilho do sol através dos primeiros chuviscos da manhã compõe esta torre de espelhos que ergui."
Assim começa mais um dos textos tão ao teu jeito, que, relativamente curto, contem um manancial de ideias, imagens, sentimentos, duma densidade tal que me leva a ler e reler e pensar e querer perceber e dissecar, se preciso for...
"E assim, ergo-me farol arrogante que se julga capaz de dar luz aos perdidos." Dizes, no que eu considero o passo 2 do teu texto, em crescendo, nesse tom de quem escreve ao correr da pena, sem parar para compor, para ajeitar, para substituir uma palavra por outra que possa soar melhor...
"Luz que definha, espelhos quebrados." Requiem para um dia que se apresentava calmo, terceiro e último passo do texto que concluis de modo arrepiante:
"A coincidência sabe a punhal."
Sempre gostei da tua escrita. Por incrível que pareça, hoje acho que tenho vindo a gostar cada vez mais... será possível?
Escreve sempre. O privilégio de te ler é uma preciosidade de que não quero abdicar.
Beijos gratos, querido Luis.
Belissimo poema escrito em prosa... alguma vez escreveste poesia em verso? Pode-se ver?
Vulto familiar, o teu. E o dele. Luz que definha, espelhos quebrados. Fortaleza em ruínas. E a dor de uma ferida que não sara. A coincidência sabe a punhal...............................................................................
sempre bem escrito e, muito sentido.
Ha sempre uma onda maior que ultrapassa um suave salpico de chuva... Fantastico o relexo da imagem na expressao das palavras! Como sempre!
Mesmo nao escrevendo aqui ha muito tempo, continuo a ler o que escreves por ca :)
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