Sob o mesmo lençol
Disse-te que não. Hoje durmo em minha casa. Subi a colina conduzindo contra o cansaço. O motor fez o seu papel e o carro não abrandou. Os meus olhos sim. Vacilaram. Mas mantiveram-se abertos o tempo suficiente para me levarem até à cama. Alimentados pelos ecos das palavras trocadas. Pela tristeza do que nos dissémos. Dormi sozinho. A imaginar-te. A dormires também sob um lençol de solidão. Sei-te tão bem. Esta manhã acordas depois de espantares a preguiça e a gata ainda ensonada. Bebes a tua caneca de leite e comes uma tosta de queijo. Ou se calhar optas pelos cereais que comprámos ontem. Sais de casa e de imediato recebes o beijo do sol imenso que se estira na parede branca. Nas lajes alvas do terraço que se expõem para que as pises. Entras no carro e ligas o rádio. Nos estúdios de uma rádio qualquer alguém pôs a tocar a música que ouves. Sem saber que a pôs a tocar só para ti. E tu, indiferente também, entras em Lisboa. O azul do céu reflete-se nos teus olhos claros. De uma clareza que espelha a tua inocência. A tua fragilidade. "Quero cuidar de ti" disse-te eu numa noite destas. "Quero cuidar de ti" repito-o hoje, enquanto estacionas e te preparas para mais um dia. Depois de termos dormido longe. Sob o mesmo lençol de solidão.
(Fotografia por Luís Rodrigues)
10 murmúrios:
a solidão faz-me estremecer...palavras para quê?
I.
.... dormir longe ....
.... o mesmo lençol da solidão......
********
deixo-te um abraço
Luis,
"Sob o mesmo lençol de solidão"
genial esta frase, deste belo texto (será texto ou poesia ?), ás vezes confundes-me. Mas ainda bem, gostei muito.
Um abraço.
O teu texto está absolutamente genial! E faz-nos pensar...
Adorei!
Beijinhos
...esses momentos valem sobretudo porque nos ensinam a ter consciência do que é ou não, importante na vida...
... vá lá, manda-lhe flores...ou aceita as dela...
Apenas hoje descobri este cantinho de murmúrio...belo como as ondas do Mar.
Vi uma imagem fantástica da minha flor preferida: a tulipa.
Gostei das palavras...dormires também sob um lençol de solidão. Sais de casa e de imediato recebes o beijo do sol imenso que se estira na parede branca. E tu, indiferente também, entras em Lisboa. O azul do céu...(divagando)
Bom fim de semana.
Belíssimo texto!
Muito bem escrito, de grande poder descritivo!
Tenha sempre por perto uma folha de papel em branco e algo com que escrever!
Um abraço, Luis, e votos de Boas Festas.
Não há palavras para comentar este magnífico texto!
Beijinho:)
Quantas vezes durmo eu sob esse mesmo lençol.
Adorei! Continua a ser um prazer passar por aqui ;)
"Quero cuidar de ti" repito-o hoje, enquanto estacionas e te preparas para mais um dia. Depois de termos dormido longe. Sob o mesmo lençol de solidão."
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