Belle Époque (o requiem da nossa)
Uma procissão de novos restaurantes, rostos e sorrisos. Filmes, um café em casa de amigos ou um passeio à beira rio. Assim desenhei a planta de uma vida sem ti. Já não é o teu beijo que me rasga o novo dia e as noites vão-se derramando em fluxos de solidão. São noites sós mas mais serenas que nascem de uma semente de sinceridade. Deixei de me violentar com os gestos quotidianos e as minhas palavras para ti nunca foram tão despidas de falsidade como na noite em que te disse. Não te amo. E nem sequer te posso pedir desculpa por isso. É que não te amo e falhei no único projecto em que me empenhei a sério nos últimos tempos - o de aprender a amar-te. Porque afinal o amor não se aprende. O que nos resta? A distância. Vamos vestir de luto esta separação e escutar o crescendo do seu silêncio no decorrer das noites solitárias. Então, quando acordarmos e ela já não estiver deitada a nosso lado vamo-nos sentar e conversar. Achas que pode ser naquela falésia do nosso último domingo? Talvez então te possa dar o beijo de amizade que não consegui revestir de amor na tarde em que mo pediste. Vamos ver o mar queimar-se com as últimas brasas do sol e talvez possamos plantar entre os pinheiros uma nova semente. Eu gostava que desta vez fosse de amizade.
(imagem retirada de www.olhares.com)
9 murmúrios:
Excelente!
Apetecia-me colher as tuas palavras e guardá-las numa caixinha.
Beijnho*
P.s. De partida para Almourol, naquela barca:)
Bonito texto! É sempre tão agradavel ler-te...
Será com certeza. E a semente germinará, agora...
Que belo texto, Luís. Mais um, todos belos...
Beijos
... se todos os que se encontram numa encruzilhada conseguissem a tua lucidez...as coisas seriam bem mais fáceis...
.... que coragem!
...fantástico, como sempre!
bj
Olá Luís,
Como disse a Maria P.
"Excelente!
Apetecia-me colher as tuas palavras e guardá-las numa caixinha."
Em cada texto teu, delicias-nos com uma história vivida tantas vezes no dia a dia de cada um de nós. Esta, é mais uma "daquelas"!
Tem um bom fim de semana.
Beijo.
Também eu gostava de saber como se aprende a gostar de alguém. Talvez assim tudo fosse mais fácil…
P.S. Acho que nos cruzámos ontem à noite…
Caro Luis,
é dificil deixar de vir aqui.
Mas é estranho o sentimento de saída, sabe-me sempre a pouco, não pelo que fica por dizer devido ao excelente poder de sintese que tens, mas eu quero sempre mais quando te leio.
Passa pelo meu canto e tenta fazer um exercicio de memória.
Um abraço.
Assim desenhei a planta de uma vida sem ti...
desenhar uma planta dessa forma, não é fácil, mas às vezes impõe-se. igam o que disserem a ruputra és muitas das vezes a solução mais saudável. Bom texto, jurista-escritor!!!!
Mais importante do que o que deixamos para trás é o que levamos conosco, e de uma relação nunca saimos vazios, por muito que nos sintamos assim...
Também concordo que a ruptura é por vezes o melhor, com toda a dor que possa trazer a curto prazo.
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