Perdidos & Achados (?)
Perdido e sem nenhum balcão de perdidos e achados onde me encostar. Deixei-te no hospital onde passas as noites sozinha e os dias em exames e análises. Filho impotente, resta-me compensar a ausência da capacidade para te curar com uns chocolates, bolachas ou fruta, entregues no período das visitas. Sim, porque os hospitais estabelecem uma hora em que é permitido a um filho abraçar a mãe. Perdido e sem nenhum balcão de perdidos e achados onde me encostar conduzo até tua casa onde te dou notícias da minha mãe. Entre dois golos de café, como quem conta o resumo de um jogo ou o resultado de um julgamento. Presença que se veste de ausência olhas para mim e procuras-me o abraço. E eu, perdido e não achado, já não to sei dar. Encosto-me e encerro o olhar na esperança do descanso. Ele terá que vir e restaurar-me as forças. Amanhã volto a levantar-me. Carregarei, uma vez mais, os baldes a transbordar de água para regar esta terra onde a erva teima em não medrar.
(Fotografia: "O poço da claridade", de Raul Lourenço)
5 murmúrios:
"... perdido e não achado, já não te sei dar o abraço..."
Muito sentido e muito intenso todo o teu texto, Luís.
A água que carregas servirá, no final, para alimentares toda essa ternura que há em ti.
Beijos
Bela mensagem do mais puro e fiel amor que existe.As palavras escolhidas são, como sempre, muito intensas.
bj
A maneira como escreves revela o quão sentida é a tristeza, a dor, o sentimento de impotência...
A tua escrita é incisiva e forte.
Não sei se tem a ver com a tua realidade mas, caso tenho, só posso desejar que tudo melhore.
Um beijinho grande.
Este comentário foi removido pelo autor.
Comovente cântico desesperado de alguém que sente impotência perante a implacável crueldade da dor. O resto... (perdoa-me se pareço estar a relativizar)são efeitos colaterais.
Abraço amigo.
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