Anoitecimentos
Viam-no chegar pelas 9h da manhã. Jornal debaixo do braço e sorriso desenhado num rosto demasiado expressivo para ser sincero. Nunca teve dificuldades em sorrir por fora. Entrava num escritório que àquela hora era apenas povoado pela empregada da limpeza e por mais um colega madrugador. Os restantes chegariam esbaforidos entre as 10h e o meio-dia. Quando não tinha nenhum julgamento agendado passava a manhã a dar consultas. As tardes não eram passadas a despachar processos porque saía logo a seguir ao almoço. De todos os telefonemas que solicitava durante a manhã apenas um era constante no correr dos dias. Ligue-me ao Hospital, por favor. Regressava ao escritório depois de a cidade se vestir de noite. Em todo o prédio havia uma única janela que se atrevia a não adormecer. Viam-no sentado à secretária perto da janela. Uns pensavam que despachava os processos que não adiantara durante a tarde. Outros que se refugiava ali para enfeitar de lágrimas a sua impotência por não conseguir retirá-la do Hospital. Havia ainda quem dissesse que só conseguia descansar rodeado da fortaleza em que o trabalho se havia tornado. Era noite alta e só as luzes dos hotéis circundantes procuravam combater, sem sucesso, o império que a lua estendia sobre a terra. Ele permanecia sentado à secretária. Continuavam a adiantar hipóteses para o que o manteria ali. E no meio da discussão nem conseguiam escutar o som próximo de um cão solitário que uivava poemas ao longo do escorrer da noite.
(imagem retirada da net)
10 murmúrios:
Quantas vezes sorrimos para os outros e por dentro estamos cheios de dor, de tristeza, de preocupação...
Quantas vezes perante situações difíceis, os outros pensam que sabem o que sentimos e julgam o nosso comportamento segundo os seus padrões...
Quantas vezes certas pessoas querem entrar no nosso mundo quando a nossa única vontade é estarmos sós...
Há fases difíceis na nossa vida que, fragilizando-nos, fazem-nos afastar dos outros. Fechamo-nos na tristeza e esquecemos as coisas boas da nossa vida, até podemos afastar o amor... E esse é um grande erro. Esta é a minha reflexão...
Um grande beijinho.
Não sei o que te diga.
Dói-me.
Como te compreendo...
... na rua onde moro também passa esse cão...
Beijo sentido
Carregado de sentimento! Que texto lindo - tão inspirado quanto sofrido.
Um beijo afectuoso, Luís.
Sabes Luís cada vez é mais difícil comentar as tuas palavras, é como se nada fosse suficiente para as qualificar. São belas, sentidas e fazem sentir muito.
É um prazer acompanhar o teu blog.Obrigada.
Um beijinho com muito carinho.
Apesar de tudo é bom chegar aqui e ter um texto destes para ler, à parte da tristeza que possa conter ler-te é um prazer. Continua a partilhar comnosco.
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sim, afinal a vida é isso mesmo...alguns rostos, algumas máscaras, sorrisos e lágrimas...
...nuns e noutros...
um beijo
(é o Mondego; Odeceixe está no por do sol "para lá lá linha" na pág principal; obrigada por passares por lá...)
Por detrás da mascara está a verdadeira pessoa. Que pena a nossa sociedade viver em torno de estereotipos e deduções demasiadamente obvias para serem verdadeiras.
Por vezes também uso máscaras...
Um abraço
Caro Luis;
Um abraço e boa semana.
Simplesmente... AMEI
Beijo
Está a tornar-se um habito passar aqui e não conseguir comentar, apenas saio em silêncio e com um nó na garganta, hoje apenas te desejo que a consigas tirar do hospital.
Beijinho Luis
FF
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