Trujillo
Calor. Um sol abrasador. Resolvemos sair da auto-estrada antes de chegar a Madrid. Não há pressa. Temos tempo. O tempo que se estende à nossa frente é nosso. Nosso. E não há pressa. Aquela saída parecia tão boa como outra qualquer. No meio da planície espanhola. Da Espanha dos conquistadores. Dos que ansearam por uma vida nova depois da conquista às hostes muçulmanas. Dos que partiram em direcção ao Perú. Ao México. À Nova Espanha. Para trás ficaram as cabras. As serras. As casas de pedra. De perda. Esse passado torna-se o nosso presente. As pedras falam. O Sol envolve-nos. Entramos naquele páteo. Eu e tu. Sob o sol que teima em penetrar pelas parreiras que nos cobrem. O púcaro conta-nos dos lábios que lhe tocaram. Cansados. Apaixonados. Tristes. Os lábios. Os meus refrescam-se com a sangria fresca. Contam-lhe a história de uma viagem. Minha. Tua. Perdidos. Os dois. À procura. Lábios que se despedem. E que partem. À procura.
(Photo by Luís Rodrigues)
12 murmúrios:
O meu Destino disse-me a chorar:
"Pela estrada da Vida vai andando,
E, aos que vires passar, interrogando
Acerca do Amor, que hás-de encontrar."
Fui pela estrada a rir e a cantar
As contas do meu sonho desfiando...
E a noite e dia, à chuva e ao luar,
Fui sempre caminhando e perguntando...
Mesmo a um velho eu perguntei: "Velhinho,
Viste o Amor acaso em teu caminho?"
E o velho estremeceu... olhou...e riu...
Agora pela estrada, já cansados,
Voltam todos pra trás desanimados...
E eu paro a murmurar: "Ninguém o viu!..."
EM BUSCA DO AMOR - Florbela Espanca
Muito bonita a foto e, belíssimo texto.
Por onde passamos, ficam sopros de nós - e vem o vento, tudo leva e tudo pode devolver!
Um abraço.
Muito obrigada pelo comentário deixado no meu espaço. Bem podia ser um refúgio.
"Não há pressa. Temos tempo" ... par ler textos como estes que encontrei aqui. Parabéns, são de uma harmonia deliciosa!
Adicionei-te à minha casa de fantasias! :)
Como sempre adoro ler estes teus relatos cheios de vida, cor e cheiros...
Um beijo grande e boa semana para ti também!
Não afastes do horizonte. Ele está ai a tua frente e espera que o abraçes. Não te desfoques da tau essência pura. Ela tem cor e alma genuína. Não vagueis em torno de portas e janelas com medo de lhes tocares. Escolhe uma e entra com coragem. Desafia o teu dia. Não corras. Escuta nessse silêncio o tempo, o que passa e o que fica. Ai terás as palavras. Ai encontrarás a razão.
Plavras ao vento que escorre no tempo :) Belo, singelo e doce... como esse copo de sangria :)
Abraço
Nuno
Obrigado por partilhares connosco os murmúrios da tua alma!...
Espero que faças uma boa viagem, por essas terras maravilhosas de Espanha!...
Um abraço,
Nuno Osvaldo
Acho que tenho que acrescentar ainda umas palavras...
...Manuel, este poema da Florbela Espanca cai de uma forma arrepiante nestas palavras que o Luis nos escreve! Boa partilha :)
Abraços,
Nuno
Eu adoro Espanha :)
Madrid é uma cidade extremamente romantica e inspirou-te :)
lindo o teu texto :)**
Olá Luís,
É uma enternecedora descrição de uma viagem calma e bem vivida (parece que estivemos lá).
Os pormenores (dás muito valor aos pormenores) estão distribuídos harmoniosamente, de uma maneira muito especial, a que já nos habituaste.
Foi um bom momento. Para ti e para os que te lêem com os sentidos.
Parabéns Luís.
Julgo que nunca aqui estive.
Gostei e voltarei, decerto!
Van
Há murmúrios que não são dirivados do «Simplex» nem dos Notários, mem do Registo, nem do domínio da votade, nem da complexidade das normas juridicas ou do reconhecimento de assinatura...Esse murmúrio - carregado de afectos, instantes, recordações antigas e suores frios- só pode ser mesmo o "murmúrio das ondas".
Um abraço
Paulo
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