Confissões (revisitadas)
Publiquei este texto numa outra página de internet. Da minha vida. Hoje sinto vontade de o voltar a olhar. A sentir. A partilhar. Aqui o deixo.
"São oito da manhã. Mais uma vez acordo com a sensação de que o mundo é o meu lençol e que o seu peso não me deixa levantar. Depois de envergar o disfarce esperado saio para a rua. Sei que as asas que me levam acima deste mundo que considero pequeno, tão pequeno, demasiado pequeno, não estão lá e que esta corda frágil onde me tento equilibrar um dia me vai deixar cair. Desço a rua a correr como faço todos os dias e inundo-me de sol. Já tão abrasador a estas horas da manhã... Penetro na urbe dirigindo sobre o viaduto ao som dos gritos das gaivotas loucas de liberdade. O vento não pára. Levo o meu sorriso espalhado pelo rosto. O sorriso que me liga aos passantes. "Luís, nunca deixes que to roubem", não é assim? Passo a curva e dirijo-me ao Palácio da Justiça. Imóvel. Imenso. Indiferente à minha chegada, recebe-me frio e cinzento. Olho o autocarro de onde se lançam todos a correr para mais um dia. E eu lanço-me também... só assim serei capaz de voar."
27 de Julho de 2006
"São oito da manhã. Mais uma vez acordo com a sensação de que o mundo é o meu lençol e que o seu peso não me deixa levantar. Depois de envergar o disfarce esperado saio para a rua. Sei que as asas que me levam acima deste mundo que considero pequeno, tão pequeno, demasiado pequeno, não estão lá e que esta corda frágil onde me tento equilibrar um dia me vai deixar cair. Desço a rua a correr como faço todos os dias e inundo-me de sol. Já tão abrasador a estas horas da manhã... Penetro na urbe dirigindo sobre o viaduto ao som dos gritos das gaivotas loucas de liberdade. O vento não pára. Levo o meu sorriso espalhado pelo rosto. O sorriso que me liga aos passantes. "Luís, nunca deixes que to roubem", não é assim? Passo a curva e dirijo-me ao Palácio da Justiça. Imóvel. Imenso. Indiferente à minha chegada, recebe-me frio e cinzento. Olho o autocarro de onde se lançam todos a correr para mais um dia. E eu lanço-me também... só assim serei capaz de voar."
27 de Julho de 2006
11 murmúrios:
Experimenta um dia não envergar o disfarçe...e sair apenas.
:)
...a Maria P. que me desculpe...mas é impossível sem sairmos diariamente de casa sem o nosso disfarce. É o disfarce que nos distingue e nos torna igual aos outros, é o disfarce que nos confere identidade, é o disfarce que nos protege e dá segurança.
A genuinidade?...Essa está na nossa intimidade, está dentro de nós longe dos olhares críticos dos outros, longe do juízo e da razão padronizada. Por isso gosto de disfarces...
são esses rituais que de algum modo ajudaram a criar a pessoa que és fazem parte de ti
por isso mesmo
" só assim serei capaz de voar."
pois só assim és tu de algum modo na totalidade
só assim com alguma máscara consegues ser a pesoa que na rua tem força para voar, mas quando necessário se solta e revela o seu interior
...
gostei
:)
Voa Luis, voar... precisa-se!
É o nosso voar que nos transforma e nos define...
Lindo texto.
Um abraço.
Tenho que concordar com o Manuel. O disfarce que envergamos todos os dias é o que nos liga aos outros, o que nos permite interagir com eles da maneira que eles esperam. É também esse disfarce que, de certa forma, mantém a distância deles. Estabelece um perímetro só nosso (o que não seria possível com uma revelação plena do nosso interior). A pureza e a inocência que residem cá dentro guardemo-las para nós... e para aqueles a quem queremos dar tudo de nós.
Olá Luís,
Que alma a tua! E como consegues transmitir através da escrita o que sentes...
Para além do sentimento, escreves muito bem. E, embora em prosa, soa como um belo poema.
O disfarce é necessário para todos nós. O Manuel tem razão. Mas são precisas pessoas como tu para nos lembrar desses pormenores tão importantes. Pormenores que tantas vezes afectam a nossa vida e nem sabemos porquê...
Sempre é melhor detectar a origem do "mal" para o poder curar ou aceitar viver com ele.
Gosto muito de te ler.
Já pensaste em compilar todos esses textos e em qualquer momento publicá-los?
Tenho a certeza que irias ajudar muitos de nós.
o primeiro texto teu que li.e gostei. daí para cá tento não perder a harmoniosa simplicidade da tua escrita.
obrigada, luís.
Esse teu texto nostálgico dá que pensar. Realmente, é isso que fazemos todos os dias. Em sociedade, temos que usar "essa capa". Para que possamos, viver nela.
Excelente o teu texto :)
Bom fim de semana ****
«E eu lanço-me também... só assim serei capaz de voar»
Não é desta maneira que o Superman consegue voar? Três passos, em corrida, seguidos de uma flexão de pernas e... voilá!! Estamos a navegar num céu azul...
Continua a lançar-te na Vida (e a voar, consequentemente), sem deixar esse sorriso mágico e cintilante de que falas.
Bom fim-de-semana.
Abraço.
Meu Caro Luís:
A vida é isso, é uma Ordem, e todas elas têm rituais...
Mas ao contrário de uma Ordem em que só para lá vai quem quer, a vida impõe-nos todos os dias esse acto “cerimonioso”.
Ele pode ser bom, gratificante, salutar mesmo.
Ou pode transformar-se num ritual fúnebre.
Que seja sempre para si meu bom Amigo, motivo de participação séria e alegre.
É que para vivermos um ritual temos de nos sentirmos sempre bem, tal como diz, com asas, como um pássaro a voar, a planar bem alto nas alturas, numa primavera infinita.
Gostei do seu Blog, e das suas motivações, cumprimento-o por isso.
Parabéns e amizade para si.
Voa sim, com voo encantado, virei pousando para a ele asisstir_________________Meu rasto
Cõllybry
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