O final de tarde
Fartei-me de reclamar. Se isto cabe na cabeça de alguém... Metermo-nos na A5 em plena hora de ponta, fazer kilómetros só para chegar àquela praia.
Perfeito. Falaste em dar uma volta pela praia. Uma esplanada. Não me falaste em enfiarmo-nos na areia. Com sapatos. Vou o caminho todo a reclamar. Ainda por cima está vento. Fico calçado e guardo uma tonelada de areia dentro dos sapatos ou descalço-os e caminho com os pés nus sobre a areia cheia de pedrinhas na descida para a praia? E este vento que me chicoteia o rosto com areia. Não trouxe toalha. Isto promete. Estou tão ocupado a dirigir impropérios contra a minha sina que nem olhei em frente. Levanto os olhos. Olho agora. E vejo. O sol que mergulha no mar neste final de tarde começa a dar uma tonalidade mais quente à areia. O azul marinho é invadido pelo nevoeiro que desce da serra. A praia respira essa invasão. Também eu sou invadido. Já não luto. Resistir? Não. Esqueço o vento. A areia nos sapatos. Quero lá saber. Agora só quero ficar comigo. Ficar contigo. Os dois. Ficar na praia. Tornarmo-nos praia que recebe o sol do final de tarde.
7 murmúrios:
é isso, às vezes devíamos saber aproveitar os momentos que nos surgem aceitá-los e não reclamar
...
:)
É surpreendente o poder da natureza... e a nossa capacidade em nos deixarmos embevecer. Ainda bem que assim é:)
Consegui, fechando os olhos, sentir o cheiro do mar...ouvir as ondas e sentir na cara os ultímos raios...magnífico esse fim de tarde.
O final de tarde é sempre "mágico"...
como um relato dos espaços anteriores, como a beleza do presente e a expectativa das horas seguintes...pouco importa o que nos reveste...
Um abraço, obrigado pelo comentário deixado no meu post.
Que belo final de tarde!
Um texto fantástico!!
O que me incomoda na praia não são os grãos de areia deitados, são antes as pessoas, com bolas insufláveis pelos ares (e eu a ver quando ela me acerta...), a rádio portátil, que só faz ruído...
Abraço.
Adorei o texto. À parte da realidade, ou não, da acção, e sem que isso interfira com qualquer avaliação possível das palavras, a simples rudeza das frases curtas, do ondular do texto em ideias metódicas, induz o leitor a caminhar por elas. Sem rodeios nem complicações, uma tarde descrita de uma forma tão poética só pode soar a uma bela tarde na beleza dos olhos, mais do que a beleza real, que não pode ser vivida pelos meus olhos, só pela minha imaginação. Muito cativante o texto. Parabéns.
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