Do que não será
Hoje guardarei o teu poemário do ano que passou. Os dias foram-me fugindo por entre os dedos e sem que me desse conta estava num novo ano. Numa nova vida que me esforço todos os dias por transformar em vida nova. Vou fechá-lo dobrando o seu peso sobre a última página que ainda gritava o passado em cima da minha secretária: o dia 29 de Dezembro, com um poema de Ricardo Reis. Vou guardá-lo no armário até ao dia em que me lembre dele e, carinhosamente, o leve para casa, onde ficará junto às recordações de tudo o que era para ser e não foi. Para trás ficam os beijos queimados pelo sol de Porto Côvo ou o amor sôfrego entre os corpos num soalho de madeira da tua casa em Lisboa. Ficam as noites cúmplices em que sussurravas as palavras de Sophia e me dizias do medo de me amar num mundo tão imperfeito. Ficam os teus ideais e a minha fraqueza. À minha frente estende-se o medo de afinal não haver mais nada.
(Imagem: "Sun in a empty room", E. Hopper)
2 murmúrios:
A cumplicidade do amor/sexo com a poesia...
Voltei e li.
E gostei.
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