E assim anoiteci. Com a alma à flor da pele
Avanço com o carro pelo viaduto e à minha direita estende-se o rio. Cinzento de um Outono que se aproxima. Aperto a curva e mantenho firme o cigarro na ponta dos dedos, enquanto acelero. Quero chegar, parar o carro e caminhar pela rua abaixo. Os meus sapatos querem beijar a pedra da calçada molhada pelas primeiras chuvas e o corpo pede-me vento. Vou-me perder nesta cidade caótica e mestiça, borrada como se numa tela de Pollock. Afundar-se-me-á a alma no meio de tantos sonhos desfeitos e outros tantos realizados. De beijos, danças e conversas dos milhares que se perdem nas veias da polis. E quando já me tiver derretido na melancolia sórdida de Lisboa sentar-me-ei estático e inabalável a um qualquer balcão, onde numa noite como outras tantas, tentarei encontrar o complemento directo do meu predicado partir.
(imagem: "Nighthawks", Edward Hopper)
5 murmúrios:
Belo, como sempre, mas pôs-me a pensar muito...talvez demais.
Abraço.
Murmúrios ao(s) verbo(s) da noite.
Retalhos da vida! Gostei muito!
Ofereci-te o meu selo. Está lá na mjnha moon .
Céus...
...
(Não consigo escrever mais nada!)
...
Céus... (suspiro)
(Muito, muito forte... e «belíssima», o nome predicativo... para a tua escrita! Até chego a temer vir 'aqui'... é um desassossego... tantas vezes... sentir que alguém nos espreita por uma janela que julgávamos oculta e nos conta... com todas as sílabas, mesmo as que embrulhámos no silêncio das palavras caladas.)
...
Céus...
Ni*
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