entardecer-me
Encostei o corpo matizado de agosto à parede branca e deixei-me ficar. Tinha uma caneta na mão e um bloco. Aquele que tem na capa um cartaz do "Fado e cigarros" que comprei naquela livrariazinha no Chiado, lembras-te? Lisboa tão longe... Com a caneta tentei escrever a alguém que se interessasse como passava os meus dias, como me encontrava. Lá em baixo o mar fazia-se estrondo e as gaivotas gritavam loucuras... cada segundo mais próximo do crepúsculo revelava um universo que explodia em carmim. Escrevi a paciência, a serenidade, a aventura e, por vezes a solidão. Depois escrevi a fúria dos ventos que empurrava as falésias e do mar que arrebatava rochas e areias. Escrevi a costa selvagem, enfurecida, dominada. E o entardecer escreveu-me homem. Escreveu-me o calor na pele e o aroma de sal no cabelo. Antes de adormecermos ambos na primeira noite do início do mundo.
11 murmúrios:
Anoiteci-me aqui, hoje.
Um beijo, Luís
Amigo Luís
ha tempos ando para te falar nisto, mas não sei como, sem estar a violar um teu legítimo desejo de "separação de águas"; mas como é possível, e é-o de uma forma brilhante, um tal desdobramento de personalidade, na forma, não no conteúdo, das palavras que escreves, aqui ou em qualquer outro lugar?
É magnifico, acredita, para alguém de fora, observar isso.
Abraço amigo.
"E o entardecer escreveu-me homem" é das frases mais belas que se podem sentir!
Parabéns Luís! Queria-te dizer mais, mas não sei...
Beijinhos*
Este teu poema foi nomeado para caneta de ouro.
BDIA!
Penso que já te disse em tempos, mas volto a fazê-lo agora: se um dia publicares tudo isto que sentes e tão bem nos transmites, diz-me ok.
... com o que escreves, dou comigo a pensar como é possivel dizeres tanto com tão poucas palavras...
um beijo
Palavras fantásticas Luis...
Sabes que apesar de saber que só passas por aqui de vez em quando passo pro cá quase todos os dias na esperança de ler mais um destes teus textos maravilhosos.
Para quando um livro?
Beijinh e boa semana
Belo, como sempre. Final absolutamente divino.
Beijos, Luís.
Olá Luis,
Forte, desabrido, arrepiante. Terno, doce, quente.
Tudo isso aqui encontro. E muito mais poderia encontrar se não estivesse, a exemplo teu, em economia de palavras.
Abraço forte e terno.
Lindo!
Um beijo grande para ti Luis.
"Com a caneta tentei escrever a alguém que se interessasse como passava os meus dias, como me encontrava."
Voltei para reler e reler e reler ...como tantas vezes venho e volto, e volto, e volto...
Depois escrevi a fúria dos ventos que empurrava as falésias e do mar que arrebatava rochas e areias...
hoje perdi-me por estas areias (juridicas)e ainda bem...
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