Mais depressa
Conduzia. Atravessava a serra sob o calor alentejano. Aquele calor das 11h que ameaça uma tarde tórrida. Atravessava a serra porque mais uma vez se perdera. Fora para o interior. Agora regressava à costa, por onde seguiria para Lisboa. E conduzia. Conduzia beijado pelo sol e agredido pelo vento (conduzia depressa). Ouvia uma música no rádio que falava sobre não ter medo. Seguir em frente. E conduzia. Regressava da terra mãe com novas forças. O Alentejo que lhe dá o pão devolvera-lhe também a vida. Havia mergulhado na mansidão das águas da sua costa, corrido pelas planícies (aquele prazer tão secreto). Fez amor com a terra e ela aspergira-o de vida. E conduzia. Conduzia de volta a casa. Um intervalo nas férias para concluir aquela monografia há tanto adiada. Avistou a costa. O azul ao fundo misturava-se com o ouro dos campos à sua frente, salpicados de sobreiros isolados, pensantes. E ele conduzia. Curva após curva. A estrada estreitava-se. E ele conduzia. Mais depressa. Sempre mais depressa. Porque queria também fazer amor com o vento. A terra já não lhe chegava. Queria fazer amor com a música e com o sol. Fazer amor com o mundo. Estava apaixonado. E conduzia. Sempre mais depressa. A velocidade aumentava e com ela a sensação de voar. Mais depressa. Uma curva. Outra curva. Uma árvore à beira da estrada. E voava. Ao fundo uma casa. Mais uma curva. Uma falésia. E voava. Conduzia sempre mais depressa. Voava. Para lá da curva. Além da falésia. Em direcção ao mar. O carro já saltou da estrada. Precipita-se. Para quê travar?
6 murmúrios:
Olá Luis Rodrigues,
Obrigado pela tua visita às minhas Janelas!
Gostei imenso deste teu blog. Tive a oportunidade de ler alguns destes teus textos, e gostei da forma como escreves.
Voltarei.
Um abraço,
Nuno Osvaldo
Ora caro veraneante regressado, bem aparecido e mais ao óptimo texto que nos trouxe:)
uma abraço
Sem dúvida um belo regresso!
Um beijinho.
Foi um regresso especial para mim. Uma pequena fuga onde se queimou o que havia para queimar. Plantou o que havia para plantar. E se regressou. Feliz. =)
gostei desta "velocidade"
no fundo temos de saber fazer isso na vida quando necessário de outro modo somos apanhados pela "onda"
:)
É verdade... Lá diz o povo: parar é morrer!
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