Toda a tua ausência
(Ao João)
Claro que não fui capaz. Alguma vez achaste que seria? A alma ainda tem demasiados vincos e o seu cheiro ainda é o do teu corpo. "Anima-te homem", incentiva o João no seu jeito alegre, enquanto me leva a um café onde poderemos conversar entre tragos arrancados às chávenas. Ele não sabe que já estive uma vez nesse café. Uma única vez, no dia em que te conheci. Entramos e eu insisto, num gesto de derradeira catarse, que nos sentemos na mesa de cadeiras altas lá no canto. A mesa onde nos sentámos. Sem perceber a minha fixação acede e permite-me que me sente na cadeira que entretanto escolhi. Foi assim naquela noite. Foi assim ainda há pouco. Sentámo-nos então e percebi que o local não tinha mudado muito. A mesa ainda lá continuava e as pessoas ainda se vestiam de aromas, beijos e conversas. Ainda havia o quotidiano, a paixão e a música. Ainda havia eu e ainda havia um sonho de ser feliz que a cada dia se vai tornando mais ténue porque o tempo come-me as forças e tu não as vens restaurar. Ainda havia Lisboa lá fora, com carros, prédios, cinemas e lojas. Ainda havia tudo, pensava o João, e só eu sabia o que faltava.
14 murmúrios:
Ainda havia eu e ainda havia um sonho de ser feliz
esse sentimento é tremendo, mas a nossa capacidade de acreditar que amanhã é outro dia, no qual tudo pode acontecer tem que imperar...
Que aroma agradável ...
Gosto muito do que escreves Luis. E gosto ainda mais do que sentes. Talvez porque sentimos da mesma forma as mesmas coisas. Talvez porque damos ao que os outros chamam pormenores, o valor das coisas inesquecíveis.
Gostei de te ver por lá na minha moon.
Este comentário foi removido pelo autor.
AH! E não percas esse sonho de ser feliz. Quem sabe uma conversa de alma escancarada resolve tudo. Para bem ou para mal.
... mas que ainda há. Faltava, mas há. Tal como a capacidade de sonhar. Quem sabe, um dia....
Intensa a tua escrita, como sempre. Gosto-te.
Um beijo
Palavras música, palavras ilustrações, que se ampliam automaticamente como se lidas à lupa.
Caro Luís
é enorme por vezes o poder das "ausências", principalmente se elas permanecem guardadas lá no cantinho da memória, onde pensámos que as tinhamos arrumado para sempre.
Embora doa, de vez em quando, esse relembrar, mostra quão importante foi a pessoa e que nunca será uma ausência definitiva, para o bem e para o mal.
abraço.
E ainda havia um Joao... e enquanto os houver, tudo o que falta nao importa ou nao deveria, porque entao descobriremos que, apesar do que nos falta, temos realmente tudo o que nos faz falta!
e que nunca será uma ausência definitiva, para o bem e para o mal.
é verdade
Temos de acreditar no novo dia,no renascer...
Beijinho Mestre da palavra*
é tão intensa a forma como descreves o teu sentir...
... quando desfolhamos a última página de um livro, devemos pensar em começar a ler um novo ...
beijo
Compreendo essa falta.
Nem imaginas quanto!
Também eu guardo para mim os cheiros. Os locais...tudo!
Um beijo doce.
Bom domingo.
Há nomeação para o teu Blog! Lá. No Cleopatramoon.
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