Pari-me... e chovia
A minha sombra oscila sob as luzes dos candeeiros. O corpo veste-se dos faróis dos carros. Das luzes das lojas. Dos hotéis. Cheira a alcatrão molhado. Chuviscos. O cheiro da chuva na pedra. Os carros que passam. Afasto-me. Já só se ouve o eco dos meus passos. A alameda do tribunal. E ninguém à volta. Ninguém. Só eu. E o cheiro da chuva que se deita no passeio. Que me seduz. Que se esfrega no meu rosto. Rameira. O cheiro fértil. Sou eu e a cidade. Sós. As luzes. Mais ninguém. O céu negro. E eu. Renovo-me na chuva. No meio da estrada deserta. Atiro a pasta. Abro os braços. E grito. Renovado. Grito a dor do passado. A plenitude do presente. A incerteza do futuro. Grito a paz que anseio. Liberto-me. Podia dizer que me liberto de ti. Do trabalho. Do cansaço. Não. Liberto-me de mim. E liberto de mim nasço. Grito. Dói. Mas liberto-me. Neste novo parto.
(Photo by Luís Rodrigues)
(Photo by Luís Rodrigues)
15 murmúrios:
Consegui sentir a dor...mas a chuva aliviou...mesmo rameira.
Fabuloso.
beijo de chuva, em Maio também chove:)
Quando não há palavras para se dizer, o que se sente ao ler o que escreves, nada melhor que o silêncio.........................
Abraço
Luís...
Este teu texto está simplesmente espectacular pois embora escrevas em prosa, cada palavra que utilizas é poesia pura.
Já te tinha dito mas repito: pensas compilar num livro estes teus textos?
Faz isso Luís porque escreves e descreves as situações e os sentimentos, mesmo que momentâneos, muitíssimo bem. Olha, não tenho palavras para comentar este teu bocado de ti e em especial este final "Liberto-me de mim. E liberto de mim nasço."
Grito. Dói. Mas liberto-me. Neste novo parto."
Lindo!
E eu k detesto chuva, ao ler o teu texto tão poético, consigo sentir a sua magia.
Muito bonito e muito intenso!
Beijinhos.
mágico o texto...
abraço vagabundo
Um abraço bloguístico a todos :)
Pé de Salsa: sinceramente nunca pensei em publicar estes textos. Considero a qualidade deles questionável. São meros desabafos. E também não sei se me apetece embarcar na odisseia dos direitos de autor, editoras e afins... Por enquanto são meros murmúrios que ficam. Aqui.
Obrigado
Luis...bonito texto,em que retratas a tua libertação.Que bom,uma pessoa sentir-se assim.Fico feliz!
O presente deve-te sorrir.a plenitude,como lhe chamas.A tua hitória é passado(forma de aprendizagem)é presente(colherás frutos)é futuro(incerteza...é sempre)que depende do presente.O que semeares agora colherás no futuro.Se as sementes forem viçosas ,o futuro será viçoso.
Grande beijinho doce
Doceando:))
Obrigada pela tua presença.
Compreendo. A chuva tem mesmo este efeito em nós! o nascimento, a vida...sinto mesmo (bem, não da forma soberba como descreves).
Grande texto!!! abraço
Atrai-me esse estilo sincopado...
daniel sant'iago
Foi o feliz reencontro!
E alma tornou-se leve!
Um abraço, Luis.
Olá Luís,
que formidável a tua escrita! Apetece continuar a ler e a seguir o teu percurso mental e emocional, como se num carrossel, com o bolso cheio de fichas para ter a certeza de que não se perde uma única volta.
Beijo.
Preciso de palavras que me façam sentir e viver cada letra!
Preciso de textos que me façam sonhar!
Poderia simplesmente dizer... BELO!
Obrigado por estes momentos de prazer!
Abraço
Luis!Confesso que depois de ler o texto fiquei a murmurar de espanto e admiração por ti e dei comigo a lamentar o final da chuva que detesto.
Liinnddoo!
De vez em quando é preciso parirmo-nos. purifica.
Fantásticas palavras, ou deverei dizer mumúrios, que aqui nos deixaste. Senti a chuva a escorrer pela cara ao ler as tuas palavras.
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