Foi
Acabava de se soltar das linhas emaranhadas nas patas. Acabava de sarar as últimas feridas nas asas. Em frente ao mar ensaiava aquele que seria o seu primeiro vôo. O primeiro dos últimos meses. O sol prateava-lhe as penas. O vento lambia-lhas. À sua frente as ondas murmuravam palavras de coragem e expeliam o odor do seu sal fazendo-o esquecer o sal das lágrimas passadas. Estava temeroso. Sabia que tinha que o fazer. Mas o receio... E vieste tu. Sorriso alvo e cabelos negros. O teu toque nas suas asas. Macio. Para quê voar? Entregou-se nas tuas mãos. Onde o guardaste. Vinhas triste e querias o seu canto. Aquele que ele nunca havia cantado. Acomodado no teu íntimo. Aninhado no teu ser. Resolve cantá-lo. Ensaiou-o e ele escorreu-lhe da garganta naquela tarde de maresias. Um canto tão suave que o surpreendeu a si próprio. Perdera há muito a vontade de voar. Para quê? Se achava que era teu. Não percebeu que as tuas mãos se começavam a abrir. Apenas vivia na memória de como o havias encostado, pequenino, ao teu rosto para sentires o toque das suas penas. Para escutares o canto que anseavas ouvir. Mas tu abriste as mãos. Cada vez mais. Elevaste-as. Ele já não queria voar. Mas tu lançaste-o. E ele foi.
(Photo by Carlos Ferreira in www.olhares.com)
(Photo by Carlos Ferreira in www.olhares.com)
18 murmúrios:
Eu mergulho nas tuas ondas e refugio-me em cada palavra tua. Simples e tão profunda!
Sim... mesmo profundo e magnífico...
Aquela suavidade que transpira felicidade!
Beijinho
Profundo e lindo texto.
=*
E sempre (até me falha a palavra/espressão) vir aqui...
O bonito, do que escreves e os mil e um significados, e como nós dás a possibilidade de nos rever em situações já por nós passadas... a cada liha que se vai lendo...
Mas isto sou eu que digo lol
Abraço
Com prefundeza de Alma...bem hajas pela visita, e a retribuo, desculpa o atrazo, voltarei com mais tempo para saborear todas as Tuas palavras______________________
Cõllybry
Luis,
O seu texto está lindíssimo mas...
a fotografia não me canso de olhar.
Mais do que no texto, é na foto que eu paro.
Um abraço.
Desculpa não era suposto ser anónima,Cõllybry
Pensamos que nunca estamos preparados, mas um dia temos que voar. Muitas vezes recusamos-nos voar, mas a vida assim o obriga. voamos não para fugir de algo, mas para simplesmente seguirmos em frente.
abraço
Belíssimo, Luís.
Um beijo.
:))Então voa...voa...sem parar!
Bj d
d
Tal como o pai que segura na bicicleta do filho, e na altura certa, o deixa seguir o seu caminho, sozinho. Também ela lhe deu espaço para voar. "E ele foi."
Olá Luís,
Mais uma lição de vida muito bem contada.
Como já alguém disse...profundo e magnífico. Aliás, como sempre!
Um abraço.
Luis!É dificil e muito fácil comentar os seus textos.
Mas para mim as palavras custam a saír, talvez embriagado com a beleza deles.
Ha!Mas é tão lindo voar.
pela primeira vez parei na imagem... não que não tenha gostado do texto, antes pelo contrário, mas foi diferente. Sem esta fotografia, as tuas palavras não ganhavam o poder com que ficaram, o que habitualmente têm.
abraço amigo.
Voa…
Voa longe e bem alto e se tiveres de voltar, volta!
Mas com a certeza que o fazes sem penas, retorna de assas abertas.
O destino saberá acolher-te.
Beijo
A primeira vez é o receio do desconhecido. Depois o voo torna-se uma rotina... com algumas nuances; felizmente.
Voltarei…
Beijo azul da Concha que não é como as demais…precisamente por ser…AZUL!
BShell
gostei.
os primeiros passos são sempre os mais difíceis. bom, os restantes também :) se forem passos de passadas. Porque serão sempre os primeiros
boa noite
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