Farewell
Sabes? Dizem que é de madrugada que se foge. Não te sei dizer quando foi a primeira vez que fugi, mas se foi numa madrugada terá sido numa bem distante. Não que isso importe porque ao fim e ao cabo todas as madrugadas são iguais: místicas transições de noites arrebatadoras para os dias a que teimamos chamar "realidade". O que importa é que desde esse momento nunca mais parei de fugir. É que o olhar determinado engana. A postura confiante também. Tenho medo. E muito. Desde uma primeira madrugada em que acordei coberto de luar num quartinho perdido no alentejo. Um luar que me expunha a inevitabilidade do partir e a fragilidade daquilo a que teimava em agarrar-me com todas as forças. Segui o seu apelo e até hoje não deixo de caminhar. Queria dizer-te para onde mas sinto que eu próprio não o sei. Apenas parto porque tenho que partir. Também não te posso assegurar que seja um modo de vida, uma vez que a fuga não é algo que deseje. E não me perguntes o que desejo porque é uma pergunta que cairá sobre mim com demasiado peso para as minhas capacidades para o suportar. Neste momento apenas te posso dizer que tenho que partir. E que assim continuarei. Até ao momento em que sinta que não tenho mais que o fazer.
(imagem: "Vale or Farewell", por Arthur Hacker)
19 murmúrios:
Que engraçado...na 6ª feira também escrevi sobre as partidas.
Ás vezes temos mesmo de partir.
Mas partir sempre pressupõe, deixar alguma coisa para trás e a busca de algo que falta e não se está a conseguir alcançar...
Além de partir falas em fugir...partir é procupar alguma coisa, fugir é deixar alguma coisa para trás... espero que o consigas fazer para que encontres o teu porto de abrigo.
Beijinho
Mais um dos teus bonitos textos, parabéns...
Partir para lugar incerto é bom as vezes,,, ajuda a descomprimir e a nos fazer sentir melhor,,,, os nossos amigos percebem isso e nao se importam,,, aliás,, ajudam-nos atentar encontrar a paz.
,,, Regressar também é excellente,,, .. a vida tem destas coisas..... vai em frente ... fazo que te manda a alma.
Parte, parte sempre que o sintas como fundamental, e mesmo, como dizes, sem rumo.
Não fujas, não fujas nunca, acabas sempre por te arrepender...
Se quiseres fugir, foge em redondo (voltarás ao local donde fugiste)...
Se tiveres que partir, não te esqueças nunca de voltar.
Estamos à tua espera...
Não te percas...segue a luz.
Não fujas, não te escondas.
Segue em frente, respira fundo e vai para lá do sonho.
Beijos
Como é difícil escrever a palavra: partir, pior conjungar o verbo.
Como senti estas tuas palavras. Belíssimas!
Beijinho de Maio para ti*
"Encontro-me só na partida", escrevi há uns dois anos. Assim é. Ainda.
... não estarás apenas a percorrer o caminho possivel ?...
Nunca gostei de caminhos possíveis,,,, temos de avaliar e escolher ... esse será o unico caminho possível,,,, o ca consciência.
Querido Luís,
O teu lado nómada a falar por ti. Quando chegar o momento de dares voz ao sedentário, nem por isso deixarás de sentir saudades do caminhante errante que tens dentro de ti.
Um beijo terno.
Olá Luis!
Não há hora para fugir, mas temos sempre tempo de nos encontrar.
A partida é tantas vezes o inicio dos encontros... dos desencontros... e sempre do fim.
Um abraço.
Neste momento apenas te posso dizer que tenho que partir
a partida provaca-me sempre alguma emoção, embora eu ache que devesse ter partido mais vezes....caro luís, estás a tornar-te o diarista da minha vida (lol)
já partiste...?
bom fim de semana
beijo
Tens um "meme" n'o cheiro da ilha...
Estás à vontade para fazeres o que entenderes.
Bom fim-de-semana
Mas... ou muito me engano ou esse dia nunca mais chegará. Se não partires... de qualquer jeito... "apodreces" agarrado por.
Um abraço!
Repito: publicas ou ainda não?
A imagem é magnífica, mas as tuas palavras não ficam atrás...
«(...) Desde uma primeira madrugada em que acordei coberto de luar num quartinho perdido no alentejo. (...)
Linda imagem, esta!
Abraço,
FMOP
Olá Luís,
Costumo visitá-lo e lê-lo. Em silêncio. Gosto muito do que escreve mas tem-me faltado a coragem para me mostrar. Hoje mudou tudo: decidi começar a comentar nos blogues que aprecio e arrancar com o meu próprio cantinho: "vento agreste", que espera a sua visita, para que, pelo menos na inauguração, se faça sentir algum calor.
Até logo e um beijo.
E com janelas viradas para estas palavras também é muito bom.
Beijinho*
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