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quarta-feira, abril 23, 2008

dos escritos lúbricos numa noite quente de Abril


Naquela noite decidimos que faríamos amor. Os teus dedos percorriam-me os caminhos da pele abrasando-me o corpo. Percebi uma gota de suor que se esperguiçava pelo teu peito e o silêncio era a nossa casa. Sorriste e eu fechei os olhos. Não havia lençóis que suportassem a fúria dos membros e disseste-me que nunca o sexo entre nós seria igual. Que os suspiros que rasgaram o silêncio das oliveiras nunca mais se repeteriam e que a parede caiada de esperanças do lagar da Viúva do Gonçalves não voltaria a sentir o calor tépido do teu dorso. Que aquela noite no teu quarto seria uma só e que nunca mais os nossos corpos se cruzariam no teu colchão. Que estávamos condenados a nunca nos amarmos duas vezes no mesmo sítio e que por isso nos iríamos amando por aí fora, cumprindo os ditames dos que invejam a paixão e lhe impõem limites absurdos, porque vão além do coração (existe vida para lá do coração?). E que assim seguiríamos vivendo. Até não haver no mundo mais nenhum lugar onde nos pudéssemos amar.


(imagem: "After the bath", por Deidre Leber)

quinta-feira, abril 17, 2008

Do som da minh'alma (em dó menor)


O vento que me lança a chuva no rosto. Esquinas que escondem vielas, ruas que me mostram caminhos mas não levam a destino algum. A cidade veste-se de fados e boémia e eu bebo um copo e mais outro. Largo as ginginhas e desaperto a gravata. A barba por fazer no rosto dos olhos que te prescrutam o corpo nalguma viela. O teu peito surge em Alfama debaixo da camisa branca e envolto num lenço vermelho. Casa de fados, dos outros e meus. A tua voz arranca-me as lágrimas que não chorei de há dez anos para cá e eu já não oiço o meu pai dizer que prender as lágrimas é manter a alma cativa. A guitarra consome-me a réstea de fôlego das veias e eu grito que Alfama já não sei viver só. Mando a cabeça para trás e uivo o poema que me entregaste no primeiro dia da criação e o teu beijo me soube a um fado azul de oceanos distantes. Nesta noite gaivotas voam desorientadas. Trocam marés pelas vielas da minha alma e eu vou dormir sozinho. Corpo nu acariciado pelas suas asas e só nós sabemos o segredo da idade adulta. Que o coração tem mais penas que uma gaivota.
(imagem: "fado azul", por Márcio Melo)

domingo, abril 13, 2008

O dia apresenta-se calmo


O brilho do sol através dos primeiros chuviscos da manhã compõe esta torre de espelhos que ergui. Homem torre que reflecte o que os outros esperam ver nele. As muralhas são resistentes e o dia apresenta-se calmo... Torre que resiste no horizonte. Os urros do mar chamam-me à contemplação. Ninguém sabe o que olha, diziam eles. E assim, ergo-me farol arrogante que se julga capaz de dar luz aos perdidos. Cresço-me em toda a soberba e grito fortalezas e serenidade. O dia apresenta-se calmo... Torre que resiste no horizonte. Sedimentam-se alicerces e as ameias são engalanadas de mil bandeiras, manhãs de sol. Perscruto o horizonte apregoando luzes e salvação. O horizonte plano, cortado apenas por anónimos passantes. Num repente a luz que se perde. Vulto familiar, o teu. E o dele. Luz que definha, espelhos quebrados. Fortaleza em ruínas. E a dor de uma ferida que não sara. A coincidência sabe a punhal.

segunda-feira, abril 07, 2008

Do tempo em que os homens comiam os sonhos


As praias continuam vazias, sacudidas por vendavais constantes que as arrebatam da presença humana e as planícies escondem pardais e tordos e um ou outro sobreiro salpicado na áurea tela do teu Alentejo. Abandono locais inóspitos e aventuro-me pelas vilas de cal que agonizam porque também elas são arrebatadas da presença humana por ventos mais fortes que os que fustigam a costa. Procuro a curandeira de um tempo de mitos e sonhos que me pensou a alma e afagou o penar do que fui antes de ser homem concreto. Portadas fechadas e o chafariz seco. Além Tejo resta apenas uma candeia gasta sem o azeite dos teus sonhos e do teu verbo para alumiar as trevas do Homem. As tuas folhas fizeram-se pó que foi amassado com água e fermentado no pão que alimentou o espírito seco dos que estão sós, mas já ninguém encontra o teu verbo. Além Tejo vestiu-se de solidão e abandono porque o teu sonho já não nos alimenta. Desce a última tarde e eu não te encontro Ana Prado.


(Fotografia: "Castelo de Silves", por Ana Prado)

sábado, abril 05, 2008

20h30m


Na quinta esquina do lado direito da rua, logo após subires as escadinhas de Santa Isabel. A pedra nua do prédio ainda transpira, nesta noite, os restos do que foi um beijo solar que se prolongou desde as 13h42m até às 18h26m. Ao longe ecoam espasmos de uma conversa animada que acompanha algum jantar de estudantes, por entre os murmúrios televisivos de outro amor que nunca mais termina feliz para sempre de alguma novela. Desaperto um botão da camisa e encosto-me à parede. Sei que estás a chegar. O corpo desperta ao sentir a pedra morna e o rosto anseia por uma brisa que seja nesta noite abafada. Oiço eco dos teus passos. Estás lá em baixo, no início das escadas. Sei que estás a chegar. E que contigo ficará para trás a quinta esquina do lado direito da rua, logo após subires as escadinhas de Santa Isabel. Ficará para trás esta noite. E todas as outras que lhe antecederam.
(Imagem: "Uma noite na cidade", de Márcio Melo)

Air - Bach