sexta-feira, agosto 24, 2007
Um dia agarrei em tudo. Juntei as recordações , os livros e algumas música perdidas. Um perfume que me lembrava a paixão dos 18 anos e uma camisa que ainda me trazia um aroma a praia. Peguei nuns chinelos e na coragem e arrumei-os junto ao que aprendi em todas as mesas em que me sentei a jantar conversas. Acomodei tudo na mala de forma a que se não estragasse e enfiei-a no carro. Voltei a casa para buscar a lâmina de barbear e um caderno. Sentei-me no carro, rodei a chave da ignição e só me restou acelerar.
quarta-feira, agosto 22, 2007
sexta-feira, agosto 17, 2007
Destes lençóis de onde te escrevo (o branco)
Branco. Foi o que vi quando lá cheguei. Contrastava com o negro da fúria da discussão que me afastou de Lisboa e com o vermelho da paixão descontrolada que dizes que coloco em tudo o que faço, em todas as minhas atitudes. Mas ali era o branco. Das paredes do quarto, do jarro de porcelana e dos lençóis que o tacto revelava terem sido recentemente engomados e cujo aroma a lavanda envolvia os sentidos. Eu sabia que não merecia o branco daquela casa nem a paz das oliveiras que a rodeiam. Se a minha mãe o soubesse teria preparado com tanto carinho aqueles lençóis? Creio que sim. Dizem que o amor de mãe é incondicional. Bem diferente do que sinto por ti, que não é amor e que está sujeito a uma infinidade de condições que lhe vou impondo. Agora sei que as palavras que lancei impiedosamente contra ti nunca te foram merecidas. Que encontraram a sua propulsão no capricho que sempre me deu tanta segurança e que hoje se vê abalado pelo eco feroz do que te disse e fiz. Esse eco que me perseguiu de Lisboa a Tomar. Que me atormentou nas noites ricas de lua e nos passeios por entre olivais. Pode ser que me perdoes. E que nessa altura eu possa então dormir descansado nos lençóis brancos onde me deito.
quarta-feira, agosto 08, 2007
O fado que ele escutava quando deixou cair o último copo. Sorrindo.
Cheia de penas
Cheia de penas me deito
E com mais penas
Com mais penas me levanto
No meu peito
Já me ficou no meu peito
Este jeito
O jeito de querer tanto
Desespero
Tenho por meu desespero
Dentro de mim
Dentro de mim o castigo
Eu não te quero
Eu digo que não te quero
E de noite
De noite sonho contigo
Se considero
Que um dia hei-de morrer
No desespero
Que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile
Estendo o meu xaile no chão
Estando o meu xaile
E deixo-me adormecer
Se eu soubesse
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias
Tu me havias de chorar
Por uma lágrima
Por uma lágrima tua
Que alegria
Me deixaria matar