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quarta-feira, março 28, 2007

Algures




Tinha 23 anos quando veio começou a trabalhar num escritório em Lisboa. De imediato o aconselharam a guardar o sorriso porque um advogado se queria sério. Empenhou-se e concluiu o estágio. Aprovado com distinção. Com o passar do tempo e com a afirmação profissional as recomendações referentes ao seu sorriso foram-se esbatendo. Afinal, era aquele mesmo sorriso que lhe criava uma empatia fácil com clientes, colegas e funcionários. Um dia saiu do escritório mais cedo que os outros. Voltou dois dias depois e nunca mais ninguém lhe viu o sorriso. Vejam o olhar magoado do miúdo. Tentaram saber o que se passava e perguntaram-lhe pelo sorriso numa tarde em que o sol se deleitava sobre a sua secretária. Perdi-o, respondeu ele. Numa rua algures em Lisboa.

(fotografia por Luís Rodrigues, Porto, 2006)

segunda-feira, março 26, 2007

Às vezes mais valia não beber café













Leva-me daqui. Sei que não to devia pedir nesta tarde solarenga. Que pedido inapropriado à imensidão da esplanada deste café secular. Sinto a hora da partida e antecipo as saudades que começam a ferir. Queria ficar mas sei que não posso. Se tem que ser, leva-me. Ris-te da minha determinação enquanto acendes outro cigarro. É tempo de fechar processos, encaixotar livros e apagar as luzes. Terminar um namoro, quem sabe. Chorar outras lágrimas, rir noutros tons e cantarolar aquela música que nunca iremos ouvir. Talvez comprar gravatas novas, de cores alegres. Daquelas que são tecidas com novidades e engomadas sob o vapor do receio. Percebes o meu sorriso nervoso e aproximas-te de mim. Pousas a tua mão na minha de uma forma tão terna e determinada como só tu sabes. Leva-me daqui. E tu sopras-me gaivotas ao ouvido. Dizem-me que as suas penas são mais brancas quando se aproximam do sol. E que é essa a magia de abandonar a praia. Ninguém me pode levar daqui. Porque elas voam sozinhas. E tu nunca tomaste café comigo. Abano a cabeça. E levo-me daqui.

(fotografias por Luís Rodrigues, 2006)

quarta-feira, março 21, 2007

Belle Époque (o requiem da nossa)


Uma procissão de novos restaurantes, rostos e sorrisos. Filmes, um café em casa de amigos ou um passeio à beira rio. Assim desenhei a planta de uma vida sem ti. Já não é o teu beijo que me rasga o novo dia e as noites vão-se derramando em fluxos de solidão. São noites sós mas mais serenas que nascem de uma semente de sinceridade. Deixei de me violentar com os gestos quotidianos e as minhas palavras para ti nunca foram tão despidas de falsidade como na noite em que te disse. Não te amo. E nem sequer te posso pedir desculpa por isso. É que não te amo e falhei no único projecto em que me empenhei a sério nos últimos tempos - o de aprender a amar-te. Porque afinal o amor não se aprende. O que nos resta? A distância. Vamos vestir de luto esta separação e escutar o crescendo do seu silêncio no decorrer das noites solitárias. Então, quando acordarmos e ela já não estiver deitada a nosso lado vamo-nos sentar e conversar. Achas que pode ser naquela falésia do nosso último domingo? Talvez então te possa dar o beijo de amizade que não consegui revestir de amor na tarde em que mo pediste. Vamos ver o mar queimar-se com as últimas brasas do sol e talvez possamos plantar entre os pinheiros uma nova semente. Eu gostava que desta vez fosse de amizade.

(imagem retirada de www.olhares.com)

sexta-feira, março 16, 2007

No seguimento do post de 25 de Janeiro de 2007


"Hola a todos.

Quiero expresaros mi agradecimiento por todas las muestras de cariño que en estos últimos días me habéis hecho llegar.
Me encuentro bien, animada, esperanzada y confiada.

Paso a contaros como ocurrió:
A finales del mes de Septiembre me hice las pruebas habituales (ecografía-mamografía y también biopsia de un bulto en la mama derecha) antes de la gira por Francia. Todo estaba bien.
Antes de las navidades aprecié un bulto duro y diferente; consulté con el ginecólogo quien me recomendó una nueva biopsia -- igual a la anterior- que me realizaron el 4 de Enero.
El 8 de Enero el informe de la biopsia- igual a la anterior- concluía con esta frase:
"Sospechoso de malignidad". Se hacía necesario la operación.
Fui operada de la mama derecha por el cirujano Dr. Villacorta Patiño y su equipo en la Clínica Ruber Internacional el día 16 de Enero. Me extrajeron el carcinoma y los ganglios de la axila.
El día 23 me quitaron los puntos.
Pedí permiso al ginecólogo Dr. L Recasens y al cirujano Dr. Villacorta para viajar a Lisboa donde tenía un compromiso para participar en un festival organizado por la Asociación contra la leucemia. Tendría que hacer sólo tres canciones.
Desde que supe lo de la enfermedad tuve claro que no podría hacer los conciertos ni en España, Francia, Suiza, Luxemburgo y Portugal... Sentí que ese compromiso -- benéfico -- en Lisboa era la ocasión para despedirme por unos meses de los escenarios. Los doctores perplejos, me animaron.
Dolorida, frágil y con la emoción luchando por desbordarse canté para la audiencia del Pavellao Atlántico: "Piensa en mi", "Esta tarde vi llover" ( con José Cura) acompañada por la orquesta sinfónica de Lisboa y a piano "Gracias a la vida".
Al día siguiente 26, volví a mi nuevo status, el de enferma. Comenzaré la quimioterapia y la radioterapia dentro de unos días.
He de deciros que mi actitud es la de coger el toro por los cuernos.
Sé que soy una de los millares de personas afectadas por esta enfermedad; que nunca pude imaginar la cantidad de mujeres que han pasado y pasan por este mismo trance, que con el testimonio de muchas de ellas y con el cariño que todos me expresáis, tengo la certeza que no desfalleceré en ningún momento.

Mi eterna gratitud.

Os quiero

Luz Casal"


(imagem retirada da net)

quarta-feira, março 14, 2007

Anoitecimentos


Viam-no chegar pelas 9h da manhã. Jornal debaixo do braço e sorriso desenhado num rosto demasiado expressivo para ser sincero. Nunca teve dificuldades em sorrir por fora. Entrava num escritório que àquela hora era apenas povoado pela empregada da limpeza e por mais um colega madrugador. Os restantes chegariam esbaforidos entre as 10h e o meio-dia. Quando não tinha nenhum julgamento agendado passava a manhã a dar consultas. As tardes não eram passadas a despachar processos porque saía logo a seguir ao almoço. De todos os telefonemas que solicitava durante a manhã apenas um era constante no correr dos dias. Ligue-me ao Hospital, por favor. Regressava ao escritório depois de a cidade se vestir de noite. Em todo o prédio havia uma única janela que se atrevia a não adormecer. Viam-no sentado à secretária perto da janela. Uns pensavam que despachava os processos que não adiantara durante a tarde. Outros que se refugiava ali para enfeitar de lágrimas a sua impotência por não conseguir retirá-la do Hospital. Havia ainda quem dissesse que só conseguia descansar rodeado da fortaleza em que o trabalho se havia tornado. Era noite alta e só as luzes dos hotéis circundantes procuravam combater, sem sucesso, o império que a lua estendia sobre a terra. Ele permanecia sentado à secretária. Continuavam a adiantar hipóteses para o que o manteria ali. E no meio da discussão nem conseguiam escutar o som próximo de um cão solitário que uivava poemas ao longo do escorrer da noite.

(imagem retirada da net)

quinta-feira, março 08, 2007

(vi)vida


A vida foi-me anunciada por telefone. O Hospital comunicava que ela tinha autorização para voltar para casa. Que o marido e os dois filhos que a esperavam podiam agora tê-la junto a si. A vida foi-me anunciada e ganhou novas tonalidades. Paralelamente vi a tua imagem esbatida. Vais-te apagando e eu nem sei se te quero reafirmar as cores. Acordas e tocas-me carinhosamente no rosto. Estou noutro mundo e não quero abrir os olhos. Acho que quero estar sozinho. Deslizo da cama para a rotina tão meiga a que me habituaste. Torradas, café com leite, um beijo terno. Aperto o nó da gravata enquanto te preparas. Saímos juntos. Vou-te levar ao trabalho depois de deixares o carro na oficina. Sais do carro e eu sigo para o tribunal. Mais um julgamento. Mais uma vida resolvida a ser arquivada numa pasta de processos findos. Tantas vidas resolvidas. E a minha por resolver.


(imagem retirada da net)

terça-feira, março 06, 2007

Perdidos & Achados (?)


Perdido e sem nenhum balcão de perdidos e achados onde me encostar. Deixei-te no hospital onde passas as noites sozinha e os dias em exames e análises. Filho impotente, resta-me compensar a ausência da capacidade para te curar com uns chocolates, bolachas ou fruta, entregues no período das visitas. Sim, porque os hospitais estabelecem uma hora em que é permitido a um filho abraçar a mãe. Perdido e sem nenhum balcão de perdidos e achados onde me encostar conduzo até tua casa onde te dou notícias da minha mãe. Entre dois golos de café, como quem conta o resumo de um jogo ou o resultado de um julgamento. Presença que se veste de ausência olhas para mim e procuras-me o abraço. E eu, perdido e não achado, já não to sei dar. Encosto-me e encerro o olhar na esperança do descanso. Ele terá que vir e restaurar-me as forças. Amanhã volto a levantar-me. Carregarei, uma vez mais, os baldes a transbordar de água para regar esta terra onde a erva teima em não medrar.


(Fotografia: "O poço da claridade", de Raul Lourenço)

quinta-feira, março 01, 2007

Belle Époque Re(a)presentada


Por vezes encontravam-se. "Tenho uma surpresa para ti esta noite." Jantavam e saíam a correr, tentando escapar à chuva. Sentavam-se numa sala escura e subia o pano. Viajavam nas palavras derramadas pelos actores. Iam até uma ilha isolada ou perdiam-se num parque em Nova Iorque. Por vezes beijavam-se com ardor num beco oculto algures na América Latina. E nem sequer precisavam de sair daquela sala escura. As luzes acendiam-se e eles aplaudiam. Talvez porque os outros aplaudiam também. Talvez tivessem gostado mesmo. Nunca ninguém soube mas também nunca ninguém lhes perguntou. Saíam e deambulavam por uma rua escura da capital perdidos em divagações sobre os locais que haviam visitado nas últimas duas horas. Ninguém percebia como conseguiam percorrer tantos lugares sempre sem largarem a mão um do outro. "Esqueci-me que não temos leite para o pequeno almoço de amanhã." Era Lisboa e já não viajavam. Corriam como crianças, lançando-se à frente dos carros, enquanto procuravam algum estabelecimento que lhes pudesse salvar uma manhã mais calma no dia seguinte. Depois, já cansados (mas com as compras feitas) seguiam para casa. Senhores e possuidores de um tesouro único. Adormeciam e mais uma vez viajavam. Desta vez tinham a noite toda para o fazer. Sempre sem largarem a mão um do outro.

Air - Bach