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quarta-feira, janeiro 31, 2007

Ora pro nobis




A rua vazia estende a calçada alva vestida pelo brilho lunar. Afinal é noite de lua cheia. O silêncio impõe-se, quebrado apenas pelo eco dos passos deste vulto que caminha sozinho entre prédios que lhe escondem de persianas corridas os que dormem dentro deles. É madrugada e está frio, mas dentro do sobretudo negro existe um outro ecossistema. Um habitat de calor e de tumulto que contrastam com o frio e a serenidade desta noite. Nesta rua. O passo é regular mas com destino incerto. Acompanhado de uma oração. "Senhora dos Loucos rogai por nós. Olhai pelos que esta noite partilham o leito com quem já não amam. Pelos que se deitam por comodidade. Rogai pelos secaram. Intercedei pelos que ainda lutam. Que enfrentam a angústia de um suceder de despedidas. Que ainda acreditam que uma delas há-de ser a última. E que por isso lutam. Rogai por eles. Loucos."

quinta-feira, janeiro 25, 2007

O bilhete

"Dame un beso" - Luz Casal
Tudo começou há pouco mais de um ano. A voz dela entrou no meu percurso trazida por alguém que me acompanharia no caminho por breves momentos. Faltou o sustento necessário ao prolongamento da relação. Ficou a música dela. O tempo foi passando e a vida aconteceu ao som da voz quente. O estudo, o sucesso no fim do estágio, o crescimento profissional, as viagens, os cafés, os jantares, as reuniões. E sempre o murmúrio do "piensa en mi", "negra sombra" ou "no me importa nada". Vieste com o Outubro e ela continuou a cantar. Só para nós. Numa fuga de fim-de-semana ou num passeio de domingo à tarde. O anúnico esperado: Luz Casal... em Portugal. A primeira oportunidade de a ouvir ao vivo. Comprei os bilhetes que fiz questão de te dar na noite da nossa pequena celebração. Ontem recebi o teu telefonema. "Queria tanto ir, mas o estucador diz que se não despachar isto hoje à noite depois já não consegue porque tem outras obras". Percebo. Claro que a casa tem que ficar pronta. E está a ficar tão bonita. Como as horas que passamos juntos a projectar e a desenhar. Mais uma vez a voz fica porque alguém não pode ficar. Saio daqui a pouco com alguma tristeza e ansiedade. E dois bilhetes no bolso. Talvez deixe um na recepção do Pavilhão à espera que mudes de ideias. Pode ser que o vás levantar.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Qualidade duvidosa mas expressão sincera (este post)



Quando fecho a porta do escritório ao fim do dia e desço a rua com aquela sensação de dever cumprido que me aquece cá dentro. Quando retiro prazer do que faço. Quando escuto, inquiro e escrevo. Quando me perco por entre os livros a estudar. Quando a família me acarinha e rodeia zelosa. Quando nos sentamos todos à mesa, rimos e divagamos. Quando a partilha de cada dia é entrega. Quando há sempre um jantar, um cinema ou um passeio com amigos. Uma conversa prolongada ou até um fim de semana mais aventureiro. Quando vão crescendo, casando, tendo filhos, amadurecendo. Quando cresço com eles e amadurecemos lado a lado. Quando chego a casa e, já a tirar a gravata, te sinto os lábios. Quando acordamos de manhã já esquecidos do despertador e juntos corremos para mais um dia. Quando nos perdemos em conversas ao almoço. Quando por tudo isto me sinto seguro e estável. Quando conduzo de manhã e sussurro uma oração de graças. A mesma que repito depois de te segredar "boa noite". Então sim. É tempo de me sentar na varanda. Olhar o sol perder-se no mar. Folhear um livro. Quando descubro que a vida sempre assim foi.

(Fotografia por Andy Williams)

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Cartografias



Um miradouro em Capri. Os mármores brancos do Parthenon. Um bazar em Istanbul ou Kuçadasi. A Ponte dos Suspiros ou a Fonte de Trevi. O Casino em Monte Carlo. As águas mansas da Côte d'Azur. "La Pedrera". O Sena. As portas de Brandenburgo. Um campo florido na Normandia ou o Porto de Hamburgo. O mar do Norte. As quedas de água ao longo de um Fjord escondido ou as casinhas de Bergen. Uma Avenida em Oslo. A mata atlântica no Brasil. O "Colares Velho" em Colares. O "Orixás" em Sintra ou o "Moinho de D. Quixote" na Malveira. A ermida de S. Pedro no Alentejo. A barragem do Alvito. A Bica em noite de Santos Populares. A "Canastra da Ribeira" no Porto. A Ilha de Tavira. Uma levada na Madeira. As baleias no Atlântico Norte ou uma vinha encantada no Pico. "Resolvi trazer-te aqui porque é um sítio muito especial para mim." Assim se traça um mapa de geografia dos sentimentos. Assim voltamos aos mesmos sítios acompanhados de outras caras. Assim voltarão outras caras a esses sítios. Assim se elabora um mapa que queremos desenhado na companhia de alguém eterno. Alguém que fique. Como os sítios que visitamos.

(Fotografria por Luís Rodrigues; Fjord de Geiranger)

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Pode ser que sim


A multidão aglomera-se. Olhares curiosos de indivíduos parados. Aglutinados. Houve um acidente na Almirante Reis. Dois carros batidos (um deles atravessado na faixa) e um semáforo tombado, colhido no embate. A confusão reina na rua: bombeiros, polícia, curiosos, os condutores que tentam contornar os veículos... Um trânsito infernal. Como é que vou conseguir estar às 16h00 nas Amoreiras? O metro só vai até ao Marquês de Pombal e apanhar um táxi ou um autocarro equivale a assistir ao acidente lentamente: a Avenida está entupida. Avanço em direcção a Arroios em busca de um táxi que possa dar a volta por outro quarteirão. Pelo menos resolvi o que tinha que resolver no Tribunal do Trabalho. Falta a reunião. E a réplica que tem que ficar concluída hoje. Acelero o passo e não vejo nenhum táxi. Quero correr e não sei para onde. Não há táxis. Apenas a tua mão que se estende a medo. Confuso atravesso a confusão da Avenida. Lá descubro um táxi que invado sôfregamente. Entro e acomodo-me no banco de trás. Para as Amoreiras por favor. Lá vamos nós, por outro caminho, tentando evitar engarrafamentos. Confuso deixo-me conduzir para fora da confusão. Pode ser que sim. Ainda acredito que vamos ser felizes.

(Fotografia: "A luz do teu reflexo", por Pedro Soares)

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Assim


Fui até à praia a contar com o beijo apaixonado de uma onda mais ousada mas a erosão devastava a costa. Rochas e penedos tombavam sobre o mar em estrondos apocalípticos e fugi com medo de ser esmagado. Corri até àquele olival longínquo onde fui criado mas a apanha da azeitona fez com que se tivessem que arrancar os ramos às oliveiras e elas choraram por já não me poderem cobrir com as suas folhas de prata. Fiquei sem ter para onde ir, órfão de ti. E sentei-me. Deixei que o nevoeiro descesse e aos poucos calasse o tumulto que grassava o ser. O tempo foi escorrendo e o nevoeiro já partiu. Levantei-me e enverguei uma capa de serenidade. Envolto nela, dirigi-me à janela, que abri. O sol iluminou a divisão e sentei-me à secretária. Sem saber o que fazer.

(Fotografia: Luís Rodrigues)

quarta-feira, janeiro 03, 2007

A minha fuga


Numa noite escura como breu. Talvez em Santa Apolónia. De sobretudo negro corro em direcção à carruagem: estou atrasado. A estação está vazia e apenas se ouvem os motores do comboio. Corro e atrás de mim levantam-se duas asas negras. Imensas. O meu sobretudo negro. Numa noite escura. Num comboio que partirá com destino nenhum. E por isso é o meu. Numa tasca de uma ruela ali perto alguém há-de cantar um fado nunca ouvido. Entre copos que se erguem em brindes e talheres que cavam a comida nos pratos. Será terminado num lamento gemido suavemente. Fado ignorado. Que ninguém mais há-de cantar. O comboio desliza e penetra uma bruma de esquecimento. Nevoeiro e nada mais. Assim será a minha fuga.

Air - Bach