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quinta-feira, agosto 24, 2006

O Verão seguinte

Não fui capaz de acompanhar a Mãe e o Pai nestes dias para os Milheiros. Refugiei-me na monografia e na praia. Teria ido... se fosse para te ver. Parece que foi ontem. Acordava cedinho, com o cantar dos galos, e via-te chegar com leite acabado de tirar das cabras. Os meus lábios tocavam o teu rosto cultivado pelos anos e pelas amarguras. Ficava fascinado ao ver como aquele líquido branco se transformava no mais delicioso queijo fresco, acariciado pelas tuas mãos, enquanto lhe juntavas um bocadinho de cardo. Depois passava a carrinha do merceeiro. Eu sabia que teria direito a um pacote de bolachas Maria. Aquelas bolachas que me compravas. A mais divina guloseima. Vinham das tuas mãos ternas. Brincava no terraço enquanto te via a lavar a roupa no tanque ou de volta das flores. Os cravos coloridos contrastavam com o negro que envergavas. Da cabeça aos pés. Hoje já não há cravos. Nem o pequeno carreiro que levava ao poço. A Mãe e o Pai acharam que a tua casa era demasiado velhinha. Mandaram-na abaixo e sobre ela fizeram uma muito maior, moderna. Eles dizem que é mais confortável. Eu preferia a tua. Para mim bastava aquela porta de madeira velhinha atrás da qual eu sabia que te encontrava. Aquela cozinha onde nos sentávamos os dois sozinhos a comer. Onde eu dizia disparates e tu escutavas... Onde irias ser encontrada estendida no chão. O prato caído. O almoço espalhado. A trombose. Havia a sala cheia de luz. E o quarto. O quarto com a cama de ferro onde me deixavas dormir contigo. Onde eu descobri que, por baixo do lenço negro que envergavas, se escondiam cabelos brancos do mais puro linho. Onde rezávamos juntos um Pai-Nosso, uma Avé-Maria e a oração do Anjo da Guarda. Depois eu ficava em silêncio. Julgavas que dormia. Escutava-te a murmurar enquanto rezavas baixinho o terço. E então, sim, adormecia. Acordaria no dia seguinte. Cedinho. Quando estivesses a ordenhar as duas cabras que mantinhas apenas para me fazer o queijo. E assim crescia. Tive que vir para Lisboa. A escola. Sabia que o Verão seguinte seria nosso. E foi. Até ao teu último Verão. O dos meus 9 anos. Com o Outono veio o telefonema. O quarto do Hospital. Também tinha uma cama de ferro. Mas eu não podia dormir contigo. Ouvir-te murmurar o terço. Toquei o teu rosto. A tua pele. Tinhas os dedos negros. As nozes que apanhaste no dia da trombose. Os teus murmúrios soavam agora a gemidos. Alinhei-te os cabelos brancos, enxuguei-te a lágrima que encontrava o seu caminho nas tuas rugas e dei-te um beijo. O último. Sem o saber. Saí do quarto com esperança. O Verão seguinte seria nosso.

quarta-feira, agosto 23, 2006

No alto da montanha



"Elias entrou na gruta da montanha, e ali passou a noite. Então o Senhor dirigiu-lhe a palavra, perguntando: "Que fazes aqui Elias?" Elias respondeu: O zelo pelo Senhor dos exércitos me consome, porque os Israelitas abandonaram a Tua aliança, derrubaram os Teus altares e mataram os Teus profetas. Sobrei somente eu, e eles querem matar-me também." O Senhor disse-lhe: "Sai e fica no alto da montanha, diante do Senhor, pois o Senhor vai passar." Então veio um furacão tão violento que rachava as montanhas e quebrava as rochas com os relâmpagos diante do Senhor. No entanto, o Senhor não estava no furacão. Depois do furacão, houve um terremoto. O Senhor não estava no terremoto. Depois do terremoto, apareceu o fogo, e o Senhor não estava no fogo. Depois do fogo, ouviu-se uma brisa suave. Ouvindo-a, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e ficou à entrada da gruta. Era o Senhor que passava." 1RS 19-20
Cansado. Esperava na gruta. Estava farto de vulcões, furacões e relâmpagos a entrarem na minha vida. Farto de surgir na vida dos outros com essa violência. Furacões, relâmpagos, terremotos. Palavras ditas. Cansado das palavras. Cansado dos grandes fenómenos. Surgiste numa brisa suave. Sem avisar. Entraste. Acariciaste-me. Ficaste. Ainda bem que ficaste. O Senhor surgiu a Elias na simplicidade de uma brisa suave e não nos grandes fenómenos naturais. Tu também. A mim. Diferente. De uma forma única. Entraste. E ainda bem que ficaste. Não te esperei nos grandes fenómenos. Estava na gruta. Deitado. Sopraste de mansinho. E ficaste. Ainda bem que ficaste.
Para ti. Brisa suave. Que o Verão me trouxe.

terça-feira, agosto 22, 2006

Loucas



E foi assim... Envolvemo-nos. O sol ardia-me no corpo. Envolvemo-nos. Eu e a areia. Esfregámo-nos num extâse lúbrico beijados pela água salgada. As ondas tentavam alcançar-nos. Lambiam-me os pés e as pernas. E tentavam. Com ciúmes. Loucas. Mandavam-se contra as rochas. Loucas. Com ciúmes. Envolvemo-nos. Eu e a areia.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Danças comigo?

Um bolero baixinho... Um lamento em castelhano. Os dois. Agarrados. Num perfeito compasso. Naquele terraço sobre o mar. Tão branco onde o sol se derrama na mais nívea cal. Danças comigo? Os dois. Um bolero baixinho. Encostadinhos. O toque dos nossos corpos que se mistura com o toque do vento... suave... suave... O murmúrio das ondas associa-se àquele gemido nostálgico... baixinho. E nós dançamos. A mesa coberta com a toalha de linho branco expõe alegre uma jarra de barro tosco. Os girassóis amarelos parecem querer saltar da jarra para dançarem também. O vinho que espreguiça nos copos assume um tom ainda mais rubro quando tocado pela luz. E nós dançamos os dois... Um bolero baixinho. Danças comigo?

sábado, agosto 19, 2006

Mais depressa

Conduzia. Atravessava a serra sob o calor alentejano. Aquele calor das 11h que ameaça uma tarde tórrida. Atravessava a serra porque mais uma vez se perdera. Fora para o interior. Agora regressava à costa, por onde seguiria para Lisboa. E conduzia. Conduzia beijado pelo sol e agredido pelo vento (conduzia depressa). Ouvia uma música no rádio que falava sobre não ter medo. Seguir em frente. E conduzia. Regressava da terra mãe com novas forças. O Alentejo que lhe dá o pão devolvera-lhe também a vida. Havia mergulhado na mansidão das águas da sua costa, corrido pelas planícies (aquele prazer tão secreto). Fez amor com a terra e ela aspergira-o de vida. E conduzia. Conduzia de volta a casa. Um intervalo nas férias para concluir aquela monografia há tanto adiada. Avistou a costa. O azul ao fundo misturava-se com o ouro dos campos à sua frente, salpicados de sobreiros isolados, pensantes. E ele conduzia. Curva após curva. A estrada estreitava-se. E ele conduzia. Mais depressa. Sempre mais depressa. Porque queria também fazer amor com o vento. A terra já não lhe chegava. Queria fazer amor com a música e com o sol. Fazer amor com o mundo. Estava apaixonado. E conduzia. Sempre mais depressa. A velocidade aumentava e com ela a sensação de voar. Mais depressa. Uma curva. Outra curva. Uma árvore à beira da estrada. E voava. Ao fundo uma casa. Mais uma curva. Uma falésia. E voava. Conduzia sempre mais depressa. Voava. Para lá da curva. Além da falésia. Em direcção ao mar. O carro já saltou da estrada. Precipita-se. Para quê travar?

Aqui não

Neste mar negro, sob este céu negro, nesta noite negra, coberto pelo manto da lua, sinto as ondas mansinhas, baixinhas, que me beijam os pés. É noite e ao fundo a vila agita-se. Mas aqui não. Contorce-se em alcóol, música e risos. Consegue-se ouvir o murmúrio da música, da multidão. Lá o fundo. Aqui não. Aqui apenas se vê a luz das ruas esmorecida pela distância. A luz que mantém a vila no dia. Mas aqui não. Aqui é noite. Escura. Negra. Morna. Não há luz e não há música. Há apenas esta penumbra onde melhor me encontro... me reconheço. Há apenas os beijos do mar. Risos, música, multidão? Aqui não.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Away

Ainda aqui estou. Em breve não estarei. Lisboa desfaz-se já em brumas, em fumo. Ficou para trás. Com o que não interessa. Com o que é pequeno. Ela ficou com o passado e eu parto com a sede de futuro. Na mala levo pouco mais que uns calções e uns chinelos. A mala é pequena e por isso tive que deixar para trás as recordações... À minha frente estende-se a estrada para o Sul. O Sul dos páteos cheios de luz, do mar bravo, do vinho sanguíneo, das brisas tépidas. O destino inicial é Milfontes. Os outros surgirão. E eu parto. Feliz.

quinta-feira, agosto 10, 2006

A terceira entidade

"Toda a experiência do amor tem o gosto melancólico de uma simulação. Talvez o amor seja uma terceira entidade que se interpõe entre duas pessoas, suscitando-lhes desejos de aperfeiçoamento incompatíveis com a consumação que define a humanidade. Acabei por reconhecer que não é de mim nem do Álvaro que tenho pena; lastimo o exílio sobrenatural dessa terceira entidade, rodando no vazio de um firmamento demasiado alto."
(Nas tuas mãos, Inês pedrosa)

Eu não quero ser perfeito. Não quero que vivas comigo os teus sonhos de felicidade. Quero saborear contigo esta manga madura que se desfaz em sumo. Saborear este fim de tarde tão quente. Não quero viver sonhos de criança. Amor? Não sei. Apenas te sei a ti. Neste crepúsculo. Os dois juntos... a comer uma manga.

terça-feira, agosto 08, 2006

Não é preciso muito... (um touro)

Não é preciso muito para fazer o Homem sonhar. Num dia em que o Verão acordou cinzento. Quem sabe triste por não poder estar de férias com o Outono, o Inverno e a Primavera, oiço esta música enquanto conduzo. De imediato sou transportado para outro mundo. Arranco-me os papéis, a agenda e o telefone e sou colocado naquela planície algures no méxico. A imagem de um touro negro que é banhado de prata pelas estrelas. Um touro apaixonado pela lua que já não quer viver de dia... só de noite. Um touro que de manhã mergulha nas águas buscando em vão o reflexo dela. Não é preciso muito para me fazer sonhar.


LA LUNA Y EL TORO
(A. Sarmiento y Castellanos)

Javier Solis (Mexico)


La luna se está peinando
en los espejos del río
y un toro la está mirando
entre la zarza escondío.

Cuando llega la alegre mañana
y la luna se escapa del río
el torito se mete en el agua,
envistiéndole al ver que se ha ido.

Y ese toro enamorado de la luna
que abandona por las noches las mañanas,
es pintado de amapola y de aceituna
y le puso campanero el mayoral.

Los romeros de los montes le besan la frente,
las estrellas de los cielos le bañan de plata
y el torito que es bravío y de casta valiente
abanicos de colores parecen sus patas.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Não me peças

Foi na sexta-feira passada. Estava a terminar a semana e ainda tinha tanto que fazer. Terminar aquele contrato-promessa e elaborar o relatório da reunião com os últimos clientes da tarde. Tocou o telefone. A secretária disse-me que eras tu e que iria passar a chamada. Nessa fracção de segundo devo ter corado até ao meu íntimo. O tempo parou. Atendo a chamada e oiço a tua voz. Tão terna. Sabes que quando falamos eu regresso a casa. Regresso a mim. Ao ouvir a tua voz encontro-te e encontro-me. Dizes que tens uma surpresa. Nestas coisas dos namoros e das seduções é normal termos surpresas. Um poema que se leu e nos fez lembrar aquela pessoa. Uma música que ouvimos. Uma frase bonita. Por vezes um cd cheio de músicas especiais. Uma fotografia. Por isso dizes que tens uma surpresa e eu acredito. Nunca naquela tarde de sexta-feira, pensei que fosse essa a surpresa. As outras, já as tive. Já as fiz. Mas não me peças para estar à espera de, no meio de documentos, faxes e telefonemas, receber aquela chamada. E ouvir. Dizes que compuseste a letra e a música a pensar em mim. Não me peças para estar à espera dessa surpresa. Não me peças para considerar expectável que ma fosses cantar. Que eu a fosse ouvir no meio daquela correria de sexta-feira. Que eu sentisse um arrepio estranho enquanto te oiço cantar para mim os mares e os reencontros. Os abraços e a felicidade. Não me peças para estar à espera. Não me peças... porque foi uma surpresa.

domingo, agosto 06, 2006

Um domingo... uma praia...

Nesta rocha onde me sento vejo as ondas rebentar mesmo à minha frente. Vejo-as rebentar em mim. Vêm com uma imponência titânica que se desfaz num mar de espuma branca e espessa. Que deixa a praia banhada em leite. Das fendas das rochas escorrem cortinas transparentes de água cristalina. Água que não quer estar presa. Que escorre entre frestas e ranhuras e que se lança corajosa em direcção ao mar, caindo em cascatas. Sei que é perigoso estar aqui. Que pode rebentar uma onda com mais força. Que me pode arrastar nesse mar de espuma branca. Talvez também eu me desfaça em espuma. Mas não interessa. Isso agora não interessa. Só por este momento terá valido a pena. Valeu a pena acordar cedo neste domingo. Sair de casa rumo a Sintra e perdermo-nos naquelas terreolas onde o tempo não passou. Parámos numa aldeia de muros de pedra tosca e de casinhas brancas banhadas pelo sol. Entrámos naquele café para tomar o pequeno almoço e comprar bolinhos e pão. É tão bom. À saída ainda lá estão sentados os velhotes que vimos quando entrámos. E vão estar. Estarão até ao ocaso dos tempos. Seguimos viagem. Valeu a pena perdermo-nos (tu sabes sempre o caminho). Meter o carro por trilhos onde nem as cabras ousariam passar... Valeu a pena deixar o carro estacionado naquele outeiro deserto. Caminhar à beira das falésias. Subir e descer encostas com caminhos irregulares e arbustos cheios de espinhos... Fazer isto tudo de chinelos. Saltar pelas rochas e trilhar veredas onde não se deve olhar para baixo. Valeu a pena descer o carreiro íngreme e acidentado de pedras soltas e areia traiçoeira. Valeu a pena porque cheguei aqui. Não sabia que havia praias desertas em Agosto. Praias de areia branca, água verde clarinha misturada em tons de azul. Praias onde parece que encontrámos a morada de Deus. Não sabia... e por isso valeu a pena.

quarta-feira, agosto 02, 2006

No "Linha d' Água"

Sabe-me bem. Sabe-me bem estar encostado nesta cadeira amarela. O sabor do café na minha boca. Já o bebi há dez minutos. Mas continuo com aquele aroma que me transmite uma sensação de prazer inigualável... e sabe-me bem. Sabem-me bem os beijos deste sol de fim de tarde que me queimam a pele tisnada. Sentir o vento macio. Os patos brincam contentes na água. Também lhes deve saber bem. Sabe-me bem o murmúrio alegre das conversas vizinhas. Sabe-me bem ter-te a meu lado. Sentir a plenitude do verão. Saber que o frio do inverno e a insipidez da primavera estão para trás. O outono ainda há-de vir. Mas agora é verão. E sabe-me bem.

Estrela

Chego ao escritório. São 8h40m. Pouso a pasta e olho para a janela. Mais uma manhã. O telemóvel toca (começa cedo): "tem uma mensagem nova. Por favor marque 200 para aceder ao seu voice mail". OK. Eu marco. "Recebida à 01h07m. Para ouvir marque 1." OK. "Quando ouvires esta mensagem gostava que olhasses o céu e visses uma estrela forte e brilhante. Serei eu que estou lá. Beijo grande. Boa noite." Olhei sim. Quando falámos ontem à noite e me meti no carro deixei-me banhar pelo mar estrelado que me cobria. Estavas lá. Era o teu brilho que me protegia. E é ele que me guia.

Registar um óbito

Ao subir a Marquês de Subserra para, em seguida, dobrar a esquina e chegar ao escritório, não consigo deixar de reparar nela. Com um porte digníssimo, quase imperial, mas ao mesmo tempo com uma simplicidade enternecedora. Inexplicável. Desce a rua. Vem vestida de preto. Não é de preto. É de negro: "Preto" não chega para descrever a profundidade da escuridão que enverga. Tem os cabelos arranjados, de um tom de prata ofuscante, banhados pela luz do sol de Agosto. Dos olhos, azuis, sobressai uma tristeza que que me fulmina no preciso momento em que os vejo. "Morreu-lhe alguém" penso. Provavelmente é recente dado o negro em que se banhou da cabeça aos pés. Dada a mágoa que lhe jorra do rosto. Pára junto a mim. "Desculpe, a Conservatória dos Registos Centrais é aqui perto, não é?" "Vai registar um óbito" penso eu. "Ou talvez alterar o estado civil de CASADA para VIÚVA." "É sim, minha Senhora. Desça a Rua até à Rodrigo da Fonseca e depois vire à esquerda. A Conservatória é ao cimo da rua". "Muito obrigada jovem. Um bom dia." Ela vai registar um óbito. Não mo disse. Mas deve ser isso. Eu também já registei óbitos. Dentro de mim. Óbitos de pessoas que de facto morreram. E óbitos de pessoas que me morreram. A estes registo-os na esperança de os voltar a ver. Aos outros também. Se existe a esperança para quê registá-los? O meu outro eu diria: "Que pergunta parva. Parece que não conheces o Código de Registo Civil." E ela vira a esquina. Registar um óbito? Pode ser que não...

terça-feira, agosto 01, 2006

Imigração

Não há nada pior do que nos sentirmos estranhos em terra estranha. É uma sensação de isolamento. De exclusão. São cada vez mais os apelos dos que são estranhos no nosso país buscando auxílio para se integrarem nesta comunidade. Eu ajudo... no que posso. Eles lá acabam por ter um papel que lhes diz que afinal já não são tão estranhos. Eu despeço-me deles, que partem felizes. E permaneço estranho. Estranho de mim.

Air - Bach